No Mundo da Luna


No Mundo da Luna

Por Patrícia L. N. Rodrigues

                                                                                 - Capítulo 1 -                      

De fato ela preferia roxo. Roxo lhe lembrava berinjelas e Luna adorava berinjelas fritas. Mas seu pai tinha lhe dito que usar cores nos tons solares é fundamental para quem deseja alegria para os noivos numa boda de casamento. Ele também iria assim e disse que talvez todos fossem da mesma forma. Quando ela comentou que Ginny lhe contou sobre o vestido de renda negra que tinha escolhido para participar como dama da noiva, ele ficou estarrecido “Preto é uma bela cor para se encontrar com os amigos, ou para se concentrar no recebimento de novos conhecimentos – porque você acha que a farda de sua ilustríssima escola é da cor que é? – mas para casamentos é um absurdo! Devia dar alguns conselhos de estilo para sua amiga, Lunny... você se veste tão bem!”. Bem, seu pai sempre fora tão inteligente... devia estar certo. Mas não falaria com Ginny. Afinal, com a animação que ela tinha descrito o vestido através da última coruja, mesmo tendo a cor que tinha, devia ser deslumbrante.                         
                Sentou-se na cama e contemplou o vestido “novo” que acabara de ficar pronto. Na verdade era um dos antigos vestidos de sua mãe que ela mesma reformara. Não era roxo, mas se a cor amarela demonstrasse seus votos de felicidade já se daria por muito satisfeita. Estava tão feliz por Fleur e Gui! Sendo sincera estava mais feliz pelo casamento em si. Luna adorava casamentos, mas raramente era convidada para algum. Ao olhar para o teto de seu quarto e contemplar o desenho dos amigos que ela mesma fizera alguns dias antes, imaginou se um dia talvez chegasse a ser madrinha do casamento de Ginny ou até mesmo o de Hermione. “Vou conversar com elas... talvez não se importem se eu usar roxo, violeta ou até um roxo-amarelado no dia de seus casamentos. Vai combinar melhor com meu cabelo...” pensou.

                Mas seus pensamentos foram interrompidos pela chegada de seu pai, Xenófilo Lovegood, que entrara no quarto de repente.

- Oi, papai! Não se preocupe, eu me arrumo rapidinho, não vamos nos atrasar...

- Oh, não, não Lunny... eu sei, o quanto é pontual. Só encontrei no jardim uma coisa que sua mãe gostava muito de usar e...
                - Nossa! - interrompeu o pai, animada  - O senhor nunca havia me dito que ela também usava as ameixas...
                - Não, não são ameixas!
                - Ah... não são ameixas? Mas como mamãe fazia para controlar as ameixas e... - disse, lembrando-se das ameixas dirigíveis que o pai mantinha no jardim
                - Não, não Lunny! Ameixas! Não, sua mãe não tinha nada a ver com as ameixas. Na verdade sempre me pediu para tirá-las da entrada da casa... sempre se sentiram atraídas pelos calcanhares dela. Mas deixe-me mostrar...
                E então abriu as mãos, revelando uma espécie de girassol diferente: menor que o normal e de um amarelo vibrante. Mesmo sem raiz continuava a girar a procura do sol, até que, ao chegar às mãos de Luna, parou como se olhasse para ela.
                - É lindo, papai!
                - Sim... sua mãe usava em ocasiões especiais. Ela ficava encantadora... Já lhe disse o quanto se parece com ela?
                - Hoje ainda não! - respondeu a menina sorrindo.

                - Pois se parece... - e
ntão o Sr. Lovegood sentou-se ao lado da filha e lhe afagou os cabelos - Eu não sei o que seria de mim sem você, Luna. Sua mãe já levou uma boa parte de mim, mas deixou você para iluminar minha vida. Nada no mundo, nem a patente da inenarrável descoberta para a ciência bruxa do descobrimento dos Bufadores de Chifre Enrugado... nada, nada é mais importante pra mim que você.
                - Oh, papai... eu também lhe amo, muito! Sempre estarei aqui, não se preocupe!
                - E eu não deixarei que você vá embora! - respondeu enquanto enxugava os olhos marejados.
                - Não, não chore... é melhor nos adiantarmos! Eu não posso me atrasar para o casamento! Faz tanto tempo que não vou a um...

                - Mas você nunca foi a nenhum casamento, minha filha
                - Ah... então é por isso que não consigo imaginar como seja... Ah, papai, é claro! Fui no  seu casamento com mamãe!
                 - Claro que não, Luna! - falou num tom quase revoltado - Você só nasceu no tempo certo, depois do casamento!

A menina fez uma careta confusa enquanto o pai descia resmungando as escadarias em formato de caracol, deixando-a sozinha. Encolheu os ombros e começou a se arrumar. Minutos depois desceu para encontrar-se com o pai do lado de fora, mas ao passar pela sala bagunçada do primeiro andar deu uma espiada rápida pela janela. Era uma ótima visão da casa dos Weasley. Lá estava a tenda (aparentemente pequena) onde seria realizado o evento, além da torre meio torta onde eles moravam. Sorriu de ansiedade e foi ao encontro do pai. Em dois ou três minutos já estavam cumprimentando a Srª Weasley no portal de entrada para a festa.

                Tudo estava tão lindo, e a energia era tão boa que Luna tinha vontade de dançar mesmo sem que a música tivesse começado. Tudo contribuía para um dia agradável. Até as nuvens estavam posicionadas em forma de ovelhinhas soltas no pasto (e não como ovelhinhas presas numa cerquinha, o que não é muito bom). Seu pai também parecia estar animado. Ele tinha caprichado dessa vez. A capa que estava usando era a sua preferida (por isso raramente deixava de usá-la) e a viseira era novinha em folha. Tinha ganhado de um dos leitores da sua revista. Ela a principio achou que era uma brincadeira de mau gosto, já que a viseira era por demais estranha, mas seu pai a convenceu de que presentes são bons ou ruins dependendo somente do nosso ponto de vista. Bem, ele tinha um ponto de vista ótimo em relação àquela viseira... talvez por que o convencesse de que alguém lia a sua revista. Mas é claro que alguém lia. Luna nunca deixou de ler uma edição que fosse, e quase tudo que sabia vinha diretamente delas (das revistas ou do pai, era quase a mesma coisa). E ela era inteligente, não era?! Fazia parte da casa dos sábios em Hogwarts, e isso significa muito! Se devolviam as revistas as vezes... era porque queriam tanto as novas edições que provavelmente achassem que só as receberiam se devolvessem algumas antigas. Faz todo sentido, é claro!

                - Olhe, querida! Gnomos! Que família perspicaz os Weasley são! Manter gnomos por perto é praticamente uma benção! – Disse seu pai voltando às atenções da filha para ele. Luna olhou para o jardim encantada com os pequeninos diabinhos que pulavam de um buraco para outro. Já fazia um tempo que o pai fazia pesquisas sobre os gnomos e ela já tinha ouvido falar muito sobre eles.

                - Eles são tão bonitinhos, papai! Parecem... parecem batatas saltitantes – Luna inevitavelmente pensou no chá de batatas que o pai tinha feito na semana anterior.

                - Sim, sim! Batatas! Outro sinal de como são ótimos esses serezinhos! Batatas fazem muito bem aos cabelos... pena que andam um tanto quanto caras no mercado nos últimos tempos. Da ultima vez tive que atravessar o mundo trouxa atrás de um pouco delas. Mas foi uma experiência interessante... eles me levaram para conhecer um lugar curiosíssimo! Como se chama mesmo? Han... manizônio, manicomonio... não sei, preciso aprofundar meus estudos sobre o mundo trouxa. Talvez o Arthur saiba, ele sabe tudo sobre as invenções trouxas!

                A essa altura todos já os observavam. Na verdade alguns não faziam questão de esconder as risadas e uma velha rabugenta olhava tudo com desdém. Mas ambos já estavam habituados com isso, não tinham do que se envergonhar. Luna resolveu então correr para observar de perto os gnomos do jardim enquanto o pai entrava no local da cerimonia e conversava com os outros convidados. Não demorou muito para que um dos gnomos cismasse com a cara dela e começasse a falar coisas feias. Falava tão rápido que Luna não entendeu nem metade. “Só devem estar protegendo seu território. Isso não significa que são ruins ou coisa assim” pensou ela. Levantou as mãos num sinal de trégua, mas não funcionou. O gnomozinho deu um salto tentando alcança-la, e ela, por reflexo, o esbofeteou pra longe. Quando percebeu o que tinha feito, correu até onde ele tinha caído e tentou ampará-lo. Em troca recebeu várias mordidas no dedo indicador.

                - Ai! Isso dói, sabia?! Eu não te machuquei tanto... – falou olhando a ferida que agora já começava a sangrar. Lembrou-se então que o pai havia dito alguma coisa sobre mordidas de gnomos... alguma coisa boa, se não estava enganada – Oh, o senhor deve estar me fazendo um favor não é?! – disse olhando para o baixinho de cara amarrada.

                Luna num salto se levantou e saiu saltitando a procura do pai, agradecendo ao diabinho pela mordida enquanto ele xingava palavrões o mais alto que podia. Ao chegar à entrada da tenda onde a cerimonia aconteceria, Luna sentiu vontade de ter cinco pares de olhos para observar cada detalhe. Um para os balões que se remexiam perto do altar, aparentemente eles podiam estar infestados de narguilés e seria curioso botá-los para fora; outro para cumprimentar Ginny e lhe falar sobre os problemas que a cor do seu vestido poderia trazer; um terceiro, claro, para mostrar ao pai as mordidinhas que tinha levado, com certeza ele ia adorar analisá-las; outro par de olhos para notar o quanto as ovelhinhas do céu estavam se juntando, aquilo não era bom; e outro para conversar com Harry, afinal fazia tanto tempo que não o via.

                Remexendo a cabeça, ela preferiu pensar. Só tinha dois olhos, teria que decidir. Os narguilés dos balões poderiam fugir e ir parar na cabeça dos noivos, o que seria um desastre. Melhor deixar pra lá. A roupa de Ginny, afinal, não era aquela que havia imaginado através da descrição que tinha recebido semanas antes... ela havia mesmo dito que Fleur queria que ela usasse um vestido dourado. Bem, Fleur devia conhecer essas coisas de casamento da mesma forma que o pai de Luna. As ovelhinhas no céu estavam mudando, mas pensando bem elas mudam o tempo todo. E quanto ao pai e Harry, não precisaria de dois pares de olhos. Os dois estavam juntos, conversando logo adiante (para acha-los ela só precisou seguir o olhar de Ginny, que os observava do outro lado da tenda). Foi correndo até eles e viu Rony se afastar enquanto se aproximava das costas de Harry.

                - Olá, Harry!

                - Er... meu nome é Barny – respondeu ele enquanto ficava vermelho.

                - Oh – ela virou a cabeça de lado, sem entender o que ele estava querendo dizer – Você mudou isso também?!

                - Como você sabia? – Harry agora falava pausadamente e tão baixinho que quase cochichava. Só então Luna parou para vê-lo melhor e percebeu do que estava falando. Não tinha notado antes. Harry estava ruivo e tinha cachinhos nos cabelos. Na verdade não pareceria muito com ele se não fosse ele próprio – ou alguma coisa assim. Devia estar disfarçado ou só sentiu vontade de mudar um pouquinho. De fato ele estava adorável.

                - Só pela sua expressão! – respondeu sorrindo.

                Quando Harry olhou para ela com a expressão confusa, Luna lembrou-se da mordida e mostrou o dedo machucado para o pai. Ele quase que imediatamente interrompeu a conversa com outro convidado e pegou seu dedo com um olhar preocupado.

                - Papai, olhe! Um dos gnomos me mordeu mesmo!

                E o olhar preocupado deu lugar a um extenso sorriso.

                - Que maravilha! Saliva de gnomos é altamente benéfico! – E olhou o dedo da filha ainda mais de perto – Luna, meu amor, se você sentir algum talento germinando hoje – talvez uma urgência inesperada em cantar ópera ou declamar em serêiaco – não reprima! Você pode ter sido presenteada pelos Germumblies!

                Mas enquanto pensava nos talentos que gostaria de adquirir, Luna ouviu uma fungada de gozação passando por eles. Rony, é claro. Reconheceria suas risadas de qualquer lugar. E por mais que gostasse delas, era uma estupidez rir de assunto sério como aquele. Seu pai poderia ficar chateado.

                - Ron pode rir – disse olhando para Harry, mas num volume suficientemente alto para que Rony pudesse ouvir de onde estava – Mas meu pai tem feito muitas pesquisas sobre a magia Gerumbli.

                - Verdade? Tem certeza que não quer colocar nada nesse machucado então?

                Por mais que sentisse que Harry não acreditava tanto quanto ela nas coisas que seu pai tinha a ensinar, Luna sentia que ele tinha mais abertura que Rony ou Hermione. Gostava disso nele. Ninguém era obrigado a acreditar, mas o fato de ouvir e buscar novos conhecimentos nunca fez mal a ninguém.

                - Oh não, está tudo bem – disse ela, preferindo chupar o sangue que já começava a escorrer enquanto voltava a observar Harry – Você está adorável. Falei a papai que a maioria das pessoas provavelmente usaria túnicas, mas ele acha que devemos usar as cores do sol em casamentos. Para dar sorte, sabe?!

                O olhar confuso do amigo mostrou que ele não sabia. Mas antes que resolvesse explicar os motivos e que Fleur parecia entender daquela forma também, ela viu o pai dirigindo-se para os balões no altar e resolveu segui-lo. Ele também deve ter notado narguilés por ali. Mas não conseguiram completar o caminho. Foram interrompidos por Gui, que estava deslumbrante nas suas roupas de festa. Luna gostava dele. Estava sempre sorrindo, e quando era mais novo, antes de começar a trabalhar no Gringtones, costumava passar em sua casa para conversar com o Sr. Lovegood sobre assuntos que envolviam criaturas misteriosas. Não que acreditasse plenamente, mas, como Luna gostava de perceber, tinha prazer em simplesmente conhecer. Gui parecia ser o noivo mais feliz do mundo, mesmo com as cicatrizes proeminentes em seu rosto (para a menina aquilo só o tornava mais interessante). Não era à toa. Luna lembrava-se da noiva e de como era bonita, apesar de achar que conseguia se superar na própria soberba de vez em quando. Mas ainda assim eles pareciam se gostar de fato, e era isso que importava no final das contas.

                Luna participou da conversa dos dois até certo ponto. Depois de um tempo passou a se imaginar no lugar de uma noiva como Fleur. Vestida de branco e segurando um buquê de flores, sendo guiada por seu pai, enquanto o rapaz que amava a aguardava no altar. “É tão estranho...” pensou. Primeiro porque não gostava de se vestir de branco. Não propriamente pela cor, mas porque, apesar de gostar de ser branquinha, sua pele não favorecia cores claras. Seu cabelo desbotado só pioraria a situação... ela pareceria uma vela – não, não uma veela. Antes fosse. Mas uma vela mesmo, destas de cera branca e absolutamente sem graça. Preferia muito mais usar roxo! Uma cor tão bonita, viva, vibrante era tudo o que precisava. Casar com um vestido longo e roxo seria muito mais aceitável. E quanto ao rapaz, o então noivo... será que teria a mesma sorte que Fleur teve em encontrar alguém tão legal? Ou a mesma sorte que a mãe, que se casou com um homem tão inteligente e apaixonado quanto seu pai? Nunca pensara nisso. Conhecia alguns rapazes. Muito poucos na verdade. Harry, Rony e Neville. Mas Harry já era definitivamente reservado para Ginny e Rony (por mais que não assumissem) era de Hermione. Bem, sobraria Neville, mas ele provavelmente pensaria menos nesse assunto que Luna. Alias, porque estava mesmo pensando nesse assunto?! Esse tipo de coisa deve ser como um pomo que aparece na mão do apanhador, ou uma varinha faz a coisa certa nas mãos do bruxo certo: acontece quando tem que acontecer. Ou pelo menos deveria ser... tinha que falar com Ginny sobre este assunto.

                - Lunny – exclamou o Sr. Lovegood já distante – Venha sentar-se querida, o casamento está começando.

                Com um salto de surpresa, Luna se adiantou e sentou-se no lugar vago ao lado do pai. Alias, os lugares ao redor deles estavam todos vagos. Uma sorte, já que todos os lugares além daqueles estavam abarrotados de tanta gente. Acenou de longe para Ginny e Hermione (“Olhe papai, ela está de roxo! Que bom que não vim com meu vestido roxo... não ficaria tão bem em mim quanto ficou nela. Está linda!”) e aguardou a entrada da noiva.

                No que se seguiu tudo foi melhor do que poderia imaginar. Prometeu a si mesma nunca mais perder uma festa de casamento (na verdade ela nunca perdera nenhuma, só nunca fora convidada). Quando tudo mudou de lugar e a pista de dança apareceu de repente, a música começou a tocar e os quitutes começaram a ser distribuídos. Sentou-se numa mesa disponível e observou o movimento enquanto esperava os garçons aparecerem oferecendo pudins. Só então percebeu o moço alto e forte que participou do Torneio Tribuxo anos atrás, Vitor Krum. Ele, apesar da fama de bom apanhador, era absolutamente desajeitado pra todas as outras coisas. Mas parecia ser um bom rapaz, apesar de, durante a cerimonia, ter olhado de um jeito estranho para seu pai, como se algo nele o irritasse. Mas que fosse! O pai de Luna nunca fez mal a ninguém, e o que quer que estivesse irritando o Sr. Krum com certeza seria um motivo descabido. Alias, onde estaria seu pai?

                - Tudo bem se ficarmos aqui com você? – se convidou Rony juntamente com Harry e Hermione, pegando Luna de surpresa.

                - Oh sim! – respondeu a menina com o sorriso de sempre – Papai foi em casa buscar o presente de Gui e Fleur – disse lembrando-se de repente o motivo do sumiço do pai.

                - O que será? Um suprimento vital de Germumblies? – perguntou Rony, gozando mais uma vez das pesquisas do Sr. Lovegood.

                Antes que pudesse expressar em palavras o que sua careta queria dizer, Luna sentiu um baque forte debaixo da mesa seguido por uma exclamação de dor vinda de Harry. Alguma coisa dizia à menina que aquele chute era para Rony, e Hermione tinha se entregado ao tentar consolar Harry silenciosamente. De qualquer forma Rony pareceu sentir que deveria ficar quieto, e Luna preferiu continuar a conversa como se ele não tivesse dito nada. Pouco tempo depois a banda começou a tocar e os noivos entraram na pista de dança. Os pés de Luna formigaram. Adorava aquela banda (“Como é mesmo o nome desse grupo...?”) e gostava mais ainda daquela música. Quando mais casais se dirigiram à pista, ela não resistiu:

                - Gosto desta música! – e marcando o compasso com os dedos das mãos e dos pés, levantou-se e foi até a pista, sozinha, girando e balançando os braços conforme a música, desfrutando do momento com os olhos fechados. Raramente dançava e quando tinha oportunidade de fazê-lo, fazia com todo o prazer do mundo. De longe ainda ouviu Rony dizer alguma coisa ao seu respeito, mas dessa vez num tom nitidamente mais amigável. Aquilo a fazia lembrar porque gostava tanto dele, desde o começo, mesmo quando raramente dizia alguma coisa boa a seu respeito.

                Ela não percebeu quando Vitor Krum havia ocupado o lugar que tinha deixado vago na mesa, mas depois entendeu que era o motivo mais provável para que Rony viesse puxando Hermione para a pista de dança. Suas orelhas estavam tão vermelhas que Luna se perguntou se ele não tinha experimentado novamente os famosos feijõezinhos e pego um de pimenta malagueta. Hermione, no entanto, parecia bem satisfeita. Seja lá qual tenha sido o motivo, os dois pareciam bastantes felizes juntos, ainda que um pouco envergonhados. Luna continuava sua coreografia improvisada quando percebeu Ginny vindo com uma cara irritada ao seu encontro. Luna olhou em volta e percebeu o motivo de sua ira. Alguns rapazes estavam rindo de sua dança e Ginny, mais uma vez, tomara partido. Parou ao lado da amiga e sorriu para ela.

                - Será que consigo aprender alguns passos? – disse tentando imitar os movimentos da dança. Ginny sempre defendera Luna em Hogwarts, é claro que não seria diferente dessa vez. Enquanto aprendia os passos, olhava de uma forma tão ameaçadora para os rapazes, que Luna chegou a pensar que eles começariam a rodar da mesma forma que ela só para tentar amenizar a fúria da garota.

                - Rony tem razão – dizia Ginny enquanto rodopiava ao lado da amiga – Você é mesmo muito original!
                Não demorou muito Lino Jordan tirou Ginny para dançar e Luna voltou a ficar sozinha. Seus pés já estavam doloridos e ela resolveu sentar-se. A mesa agora estava vazia. Harry estava conversando com o Sr. Dodge e o Krum... estava falando com seu pai?! O que um alguém tão famoso estaria discutindo com ele? Pelos gestos de Krum, pareciam estar numa briga feroz, mas o Sr. Lovegood se mantinha impassível. Então, de qualquer forma, não deveria ser nada demais. Esperou um pouco (saboreando sua sexta taça de pudim de arroz) e quando viu o Krum cruzar a tenda furioso como um trovão, acenou para os amigos de longe e pediu ao pai para irem embora. Não que estivesse muito cansada, ou que a festa não estivesse boa. Mas tinha aproveitado bastante, comeu pudim pelo mês inteiro e esse horário era propício para colher alguns nabos em seu jardim. Era mesmo hora de ir. Havia mais com o que se preocupar.


- Capítulo 2 –

                O que se seguiu foi uma sequencia de fatos terríveis, e Luna nunca vai poder dizer se foi sorte ou azar ela e seu pai saírem antes do fim da festa. Tudo o que conseguiu perceber foi um clarão forte, uma voz grave e gritos. Mas a essa altura já estava na porta de casa e não sabia sobre o que se tratava. Ela agora já não pensava em colher nabos. Mas antes que pudesse fazer alguma coisa o Sr. Lovegood a empurrou para dentro e empunhou sua varinha. Depois bateu a porta e voltou correndo em direção à Toca. Pela primeira vez na vida Luna pensou que o pai estivesse fazendo uma tolice. Não em ir ajudar, mas em tentar impedi-la de ir também. Não é que ela estivesse se sentindo muito mais importante por isso, mas Luna havia mesmo lutado com Harry e os outros na batalha do Ministério, não havia?! E ela também tinha que se habituar a situações assim, afinal, lutar seria a única saída para quem não aceitasse o que o Ministério impusesse.

                Mas Luna permaneceu em casa. Pela janela da sala percebeu do que se tratava e entendeu que dessa vez feitiços e azarações não seria suficientes. Em alguns minutos o Sr. Lovegood estava de volta, ofegante e angustiado, batendo a porta com força e fechando todas as trancas mágicas.

                - O Ministro... o Ministro foi morto, Luna – disse enquanto fechava todas as cortinas – Harry Potter sumiu; ele, o filho dos Weasley e a garota trouxa.

                - Como assim “sumiu”?

                - Não, não se preocupe... Kingsley Shacklebold enviou o recado através de seu patrono...

                - Isso explica o brilho e a voz – interrompeu Luna pensativa.

                - Sim, ele anunciou a queda do Ministério... a morte de Scrimgeour e a chegada ‘deles’.

                - O que? Os Comensais estão aqui?

                - Sim, sim, sim... agora acalme-se. Não vou deixar você sair daqui para ajudar ninguém. Não se preocupe com Harry e seus amigos, eles aparataram e devem ter algum plano. Os Weasley também sabem se virar. E você, por todos os chifres enrugados, não pode me deixar aqui!

                - Desculpe, papai, mas não pense que vou deixar Harry sozinho.

                - Não estou lhe pedindo isso. Sempre soubemos que isso aconteceria e não vamos assistir a tudo de forma passiva. “O Pasquim” irá cumprir seu papel de informar a verdade que o Ministério se recusa a mostrar, como sempre fez. E você também deve ajudar, afinal não foi isso que sempre lhe ensinei?! Mas hoje, agora, você vai permanecer aqui.

                Ela concordou e se jogou na poltrona mais próxima. Parecia que acordaria daquele pesadelo a qualquer momento. Seu pai tinha razão, ela sabia que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde. Na verdade eram a alegria e a leveza que sentia momentos antes que deviam ser um sonho. Agora sim ela havia sido acordada por um beliscão de realidade. Sem saber direito o que fazer, levantou-se e subiu as escadas até seu quarto. Jogou-se na cama e olhou para o desenho dos amigos no teto, enquanto o pôr-do-sol avermelhava tudo ao redor. Sempre foi parte dos sonhos de Luna ter amigos como eles e agora que os tinha conquistado corria o risco de perde-los da forma mais trágica que conseguia imaginar. Mas ela os conhecia bem. Não poderia se esquecer dos olhares obstinados que todos tinham ao se reunir nos tempos da AD. Agora que a prova final havia sido imposta, não havia dúvidas de que estavam preparados.

                Com um salto enérgico a menina levantou-se da cama e abriu o armário. Harry, Ron e Mione agora eram oficialmente fugitivos, mas ainda havia Hogwarts. Luna nem tentava imaginar o que seria da escola com essa confusão toda. “Provavelmente tentarão nos corromper...” pensou enquanto abria o velho malão. Agora, mais urgentemente que antes, a Armada precisaria permanecer. Ela, Neville e Ginny teriam que assumir o trabalho de forma ainda mais concreta. E apesar de não se sentir exatamente feliz com essa ideia, sentia um profundo consolo em saber que estaria fazendo alguma coisa “Eles vão conhecer a firmeza e a dignidade dos Lovegood”.

                Quando deixou os planos de lado para fazer o jantar, Luna não se surpreendeu em ver que o pai já trabalhava em um novo artigo para a revista. Ele parecia eufórico, apesar do olhar preocupado. Ele não se calaria, e isso a fazia sentir ainda mais orgulhosa dele. Desceu até a cozinha e preparou um dos pratos prediletos do Sr. Lovegood, sopa de dialéx. Nunca ficava tão bom como das vezes em que ele mesmo preparava a sopa, mas ela sabia que ele ficaria feliz em saborear assim mesmo. Fez questão de preparar um caldo reforçado com pedacinhos de nabo e molho chinês para recuperar as forças. Depois de tudo pronto, preparou duas tigelas cheias de sopa, pedacinhos de pão e bolinhas de leite açucaradas e subiu ao encontro do pai na sala do primeiro andar. Ele a agradeceu com um sorriso e os dois saborearam juntos o desjejum em silencio. Quando já haviam terminado, Luna falou de forma tranquila:

                - Já estou organizando as coisas para partir para Hogwarts... sei que faltam alguns dias, mas não são tantos dias assim.

                - Tudo bem – ele concordou de cabeça baixa - Geralmente fico triste quando você parte, mas dessa vez acho que será mais... han, seguro pra você.

                - O senhor acha mesmo que Hogwarts será segura sem a presença de Dumbledore? Principalmente quando nem o Ministério escapou...

                - O Ministério nunca foi confiável, querida, você sabe disso. Tudo culpa da maldita política. Não é de se estranhar que tenha caído tão facilmente. Mas Hogwarts é diferente. Sei o quanto Dumbledore fará falta e sei também que será mais difícil dessa vez. Mas Hogwarts sempre será soberanamente um lugar seguro. Nem as magias mais malignas são capazes de abalar sua graça poderosa. Acredite, sei do que estou falando.

                - Tudo bem, então – exclamou admirada – De qualquer forma estou indo preparada. Não vamos assistir a tudo calados, papai. Pode ter certeza.

                - Eu espero que sim - ele então lhe deu um beijo na testa e voltou para suas anotações.

                E os dias que antecederam o embarque na plataforma ¾ se passaram assim. O Sr. Lovegood passou a diminuir os anúncios sobre novas descobertas de seres mágicos para dar lugar às manchetes sobre acontecimentos que o ministério tentava acobertar. Na verdade para o pai de Luna não era tão diferente do que a revista publicava antes. Afinal de contas o principal motivo de ainda não terem confirmado a descoberta de seres como os zonzóbulos ou dos Bufadores de Chifre Enrugado era que o Ministério da Magia se recusava a aceita-los. Diferente mesmo era o fato de o número de vendas ter triplicado. Provavelmente porque só agora os outros bruxos tinham se dado conta de que haviam mais coisas do que a censura permitia expor.

                No dia do embarque Luna levantou-se receosa e organizou suas coisas. Seu coração batia forte e a sensação de boca seca a angustiava. Nunca tinha sentido aquilo antes... parecia medo. Entenda, para que quem, como Luna, não está acostumado em sentir vergonha das coisas que faz ou medo do que os outros vão pensar, aquela sensação parecia estranha demais. Continuava a não ter vergonha ou medo dos outros, mas dessa vez não era sobre os outros - era sobre tudo. Olhou para o pai enquanto se dirigiam à estação e por um segundo pensou se aquela poderia ser a última vez.

                - Olhe, Luna! – disse o Sr. Lovegood quebrando o silencio e interrompendo os pensamentos da menina – O céu! Não é interessante como ele continua sendo assim tão belo mesmo quando aqui em baixo passamos por momentos tão obscuros? É claro que ontem ele estava nublado e aquela chuva forte fez duas novas goteiras no telhado da nossa casa, mas olhe como ele está lindo hoje! O Sol brilha tão forte que mal consigo olhar para cima; o clima esta incrivelmente agradável – vamos tire esse casaco, e sinta! – até as arvores respondem com folhas ainda mais verdinhas... Consegue entender?

                E ela entendeu. Ao entrar no expresso minutos depois e dar o último adeus ao pai pela janela da cabine, ela já não tinha medo. Harry, Ron e Hermione, é claro, não estavam lá, e ela podia ver o vazio que a falta deles fazia (e o que isso significava) estampado nos olhos de Ginny e Neville a sua frente.

                - Vocês viram o céu? – disse olhando para fora.

                - Han? – disse Ginny como senão tivesse ouvido o que ela tinha dito. Neville continuou olhando para os pés, sem responder.

                - O céu, não perceberam? Ontem choveu tanto... mas olhe como está hoje.

                - Desculpe Luna. Eu não percebi – e Luna entendeu o que, na verdade, Ginny queria dizer.

                - Sei que há mais com o que se preocupar... mas olhem para o céu. Tem suas nuvens negras, mas por cima delas ainda existe o sol. Pode ficar escuro durante dias, chover e fazer frio até o nariz ficar vermelho de tão gelado. Mas o Sol ainda está lá em cima. E no momento certo ele vai voltar... tornando o dia muito mais bonito e ainda mais valioso que antes.

                Eles concordaram por alguns segundos, mas logo pareciam mergulhados em pensamentos novamente. Luna aproveitou então para observa-los e reparar certas coisas. O garoto, que sempre parecia tão encabulado e medroso, agora tinha nos olhos um brilho diferente. Ela até arriscava em dizer que parecia coragem. Claro que Neville já havia mostrado o quanto era corajoso quando a meses atrás estiveram todos juntos lutando contra Comensais da Morte no Ministério da Magia. Mas dessa vez era diferente. Ele inspirava uma confiança que Luna nunca vira antes, talvez nem no próprio Harry. Neville não parecia ter notado tão bem a diferença, mas seria ainda mais visível no tempo certo, ela tinha certeza. Luna deixou de olhar para ele quando percebeu que o menino estava ficando vermelho. Ele já a tinha notado e pareceu não gostar muito (porque Neville sempre acaba tendo esse certo medo dela ninguém consegue explicar).

                Então ela observou Ginny por alguns segundos. Apesar do sorriso vago, Ginny não parecia estar ali. E não era necessário ser conhecedor de Oclumencia para saber onde ela queria estar: ao lado de Harry Potter. Era tão bonito como os olhinhos dela brilhavam quando o via, e Luna nunca iria se esquecer de como ela explodiu de alegria quando ele passou a retribuir seu amor. Na verdade parecia ser muito injusto. Todo mundo sabia que desde pequena Ginny era encantada por Harry... mas demorou muito tempo para que ele percebesse isso e resolvesse amá-la também. Quando enfim isso acontece, quando os dois se encontram apaixonados... o destino os separa da forma mais cruel. Harry estava fazendo ninguém-sabe-o-que, ninguém-sabe-onde e tudo o que a amiga podia fazer era imaginar se ele estaria bem ou mal, ou morto. “Nossa, isso é horrível!” concluiu para si mesma.

                - Harry não morreu, Ginny. Pelo menos não até agora. O Ministério gritaria aos quatro ventos se isso realmente acontecesse!

                - Ministério IDIOTA! – disse Neville nervoso. Ele olhava para Luna censurando-a pelo que disse, enquanto passava a mão no ombro de Ginny amigavelmente. Será que ele não entendeu que Luna estava tentando ajudar também?

                - Ela está certa, Neville. Isso deve ser... um consolo – Ginny falou com os olhos marejados – Ele está bem. Harry sempre será o menino que sobreviveu.

                - E sobreviver é o tipo de coisa que ele faz muito bem... imagine só, não teve um só ano em que ele estivesse em paz desde que entrou em Hogwarts! – lembrou Luna.

                Neville sorriu, quase aliviado:

 – Tudo bem, é verdade. Mas se queremos ajudar Harry também temos que fazer nosso trabalho.

- Claro! - disse Luna sorridente – Mas o que faremos exatamente?

- Continuar com a AD, eu suponho – Ginny falou com um novo folego – Tenho certeza de que este ano será ainda mais terrível que o ano passado.

- Será possível conseguir alguém ainda mais terrível que Dolores Umbrigde? – Neville olhou incrédulo.

- Eles sempre se superam... Temos que estar prontos para qualquer coisa.

E Luna e Neville concordam com ela prontamente.

- Mas afinal você tem alguma ideia de onde ele esteja, Ginny? – Neville falou vagamente, ainda com medo de magoar ainda mais a menina.

- Não, não exatamente. Sei que eles foram em busca de alguma coisa... alguma coisa que acabe com ‘ele’ de uma vez por todas. Mas acho que nem eles mesmos sabem com certeza o que é ou onde encontrar – respondeu a menina com um olhar quase confuso.

- Draco não embarcou... – lembrou Neville – minha avó disse que os Malfoy sempre estiveram do lado de você-sabe-quem. Imaginei que não seria diferente dessa vez.

- Então já está melhor do que pensei. Sem Malfoy por perto o clima já passa a ficar bem mais agradável – Ginny disse com um sorriso sarcástico.

- Por falar em clima... – Luna falava enquanto esfregava as mãos – está meio frio aqui, não?!

Àquela altura o expresso já devia estar quase na metade do caminho e o céu começava a escurecer mais cedo que o normal. No calor da conversa os três quase não perceberam como tudo estava tão silencioso e anormalmente calmo. Um frio angustiante começou a tomar conta do lugar, e eles estremeceram ao entender o porquê.

- Só podem ser...

- Dementadores – completou Neville – Eles estão por perto. Melhor não pensar na possibilidade de que será fácil. Hogwarts é importante demais para o mundo bruxo e eles não se esquecerão disso.

- Pelo menos estamos do lado certo – disse Luna com os olhos distantes de sempre, enquanto tentava se enrolar numa manta que tirara com dificuldade do malão – Só precisamos mostrar isso para os outros também... de alguma forma.

- Como assim mostrar aos outros? Todos sabem em quem Dumbledore confiava! Todos sabem quem foi o único a derrotar você-sabe-quem a mais de dez anos atrás! É claro que todos sabem que Harry é capaz de derrota-lo novamente, não é? – Ginny já parecia irritada.

- Mas o medo é como uma doença, Ginny – respondeu Luna sem se abalar – Contamina os ossos e congela a mente. Agora Harry está desaparecido e ‘eles’ mais presentes do que nunca. Como podem ter certeza de que a única garantia que podem ter é confiar em um garoto que acabou de completar 17 anos? Nem todo mundo pensa como nós.

- Ela tem razão, Ginny. Temos que convencer os outros de que estão certos em esperar pelo melhor... por Harry – Neville falou com a mesma voz de compaixão de antes.

Ginny não parecia tão confortável com essa ideia e ao notar isso Luna preferiu encerrar o assunto. Neville parecia ter percebido também e concordou silenciosamente. Eles esperaram pelo resto da viagem o barulho do carrinho de doces passando pelo corredor, mas pela primeira vez não ouviram nada – fato que lamentaram profundamente. Quando perceberam estar mais próximos do castelo, trocaram as roupas tradicionais pelas saudosas fardas da escola. Antes, vesti-las era um motivo de alegria e entusiasmo. Agora tudo que sentiam era um receio que incomodava quase tanto quanto ansiedade... mas tinha um gostinho um pouco mais amargo. Quando enfim o trem parou na estação final o frio atingiu seu ponto máximo. Enrolados entre cachecóis e capas de inverno, os alunos desceram em silencio e foram em direção às carruagens. Luna talvez fosse a única que gostava de um jeito especial daquele momento. Tirou da bolsa um pacote plastificado e desenrolou dele um pedaço de carne crua. O estendeu com a mão para o nada em frente da carruagem e sorriu.

- Não faça isso na frente dos outros, Luna – exortou Neville apreensivo – As pessoas não veem os testrálios como você. Pode acabar assustando-os.

Mas ela não pareceu ouvir e de fato o pedaço de carne desapareceu em alguns segundos. Luna estendeu o dedo indicador em direção aos lábios pedindo silencio e Ginny riu da careta preocupada de Neville. Ele ajudou as meninas a subirem e eles seguiram com os outros alunos, sendo guiados pelos seres “invisíveis”.

- Eu não posso dizer que os vejo, Luna – Ginny falou de repente – Mas depois dos últimos acontecimentos acho que sou capaz de ver pelo menos alguns vultos aqui e ali.

E eles riram pela primeira vez. Mas ao entrar no saguão principal e de seguirem ao salão para o jantar de abertura, algo lhes indicava que naquele ano não haveria mais tantos motivos para sorrir. Apesar de tudo permanecer tão belo e majestoso como sempre, a tensão pesava de forma quase palpável pelo lugar. A agitação dos alunos que refletia a ansiedade em conhecer aquele que substituiria Dumbledore como diretor da escola contrastava com a angustia estampada na expressão dos professores. Pelo menos nos professores que conheciam. Além da Srª McGonagall, ... todos os outros eram desconhecidos. E, na concepção de Luna, todos absolutamente não confiáveis. A menina, agora separada dos amigos, aguardava a apresentação do novo diretor sentada no lugar de costume na mesa de sua casa. Diferente dos outros não, parecia nem um pouco ansiosa. Talvez por ter aprendido cedo que se algo é inevitável ansiedade demais por causa dele é uma tolice sem tamanho. Ou simplesmente porque a ultima edição de “O Pasquim” que lia no momento trazia um artigo interessantíssimo sobre seres mágicos recém-descobertos nas regiões da América do Sul.

Mas quando o novo diretor tomou seu posto na cadeira principal da mesa dos professores, todos os rostos – inclusive o de Luna, apesar de certa relutância – se voltaram para ele. A partir de então, nem o silencio sombrio que tomou conta do lugar expressava a surpresa e o temor de todos.


  

- Capítulo 3 -


O silencio ainda durou alguns minutos. Ninguém parecia acreditar no que estava acontecendo. O suspense que rodeava a nomeação de um novo diretor deu lugar ao espanto de saber que Severo Snape havia sido escolhido para o posto. A menina olhou para os lados rapidamente procurando nas expressões dos outros alguma explicação. Seus colegas da Corvinal continuavam perplexos, ninguém se atrevia a dizer nada. A essa altura alguns membros da Sonserina reagiam mais positivamente à surpresa. Não da forma esfuziante que se imaginaria, já que afinal o seu antigo mentor e defensor agora tinha alcançado o cargo máximo, mas nem eles seriam tão cínicos. Agora a verdade viera a tona e Snape não escondia mais o fato de sempre ter sido um espião do “Lord das Trevas”. Diante disso e da nova posição que ocupava ninguém seria capaz de confrontá-lo... talvez.

Luna voltou a atenção para a mesa da Grifinória e seus olhos se encontraram com os de Neville. Dessa vez, nem a notícia do novo diretor lhe causou tanto espanto quanto o que vira. É claro que imaginava que Neville entraria em colapso ao ver que a pessoa que mais temia na Terra agora comandava a escola mais poderosa do mundo bruxo. Na verdade aquele poderia ser um ótimo motivo para que ele desistisse de todos os possíveis planos para a AD. Mas não. Definitivamente, não era aquilo que se via nos olhos de Neville. Apesar de manter uma postura tensa e o rosto totalmente corado, seu olhar era firme e por um instante pareceu estar incendiando por dentro. Ele não desistiria. Ginny, ao seu lado, também não demonstrava o mínimo de fraqueza. Luna pensou se não estaria aliviada, pela primeira vez, em saber que Harry não estaria lá para conviver com tamanha tragédia. A tragédia que eles teriam que enfrentar daqui pra frente.

Enfim o então novo diretor levantou-se da cadeira principal e se preparou para falar pela primeira vez. Não parecia absolutamente confortável com aquilo, apesar de se mostrar triunfante. Sua expressão era ainda mais abatida e, no aspecto geral, parecia não ter tomado alguma medida especial para se apresentar com mais pompa. Era o mesmo Snape, apenas mais soberbo e insuportável que antes. Isso fazia Luna pensar sobre o que se passava em sua mente naquele momento. Será mesmo que vale a pena de alguma forma servir a alguém que sequer respeita seus seguidores? Não havia lógica em preferir estar ao lado de quem não dá o mínimo valor a quem você é ou deixa de ser. Seria apenas por maldade ou questão de sobrevivência? Mas sobreviver pra quê se não havia sequer um motivo digno para se viver? Foi tudo muito rápido. Com uma batida forte na mesa o diretor chamou a atenção de todos para iniciar o seu discurso.

- Sei que todos tem consciência do momento glorioso que estamos vivendo. Finalmente os fortes e puros hão de tomar o seu lugar de direito e prevalecer sobre a minoria podre que por séculos insistiu em nos contaminar com sua imundícia. Enfim nós, seres superiores e evoluídos, estaremos onde devemos estar e da forma certa. Falo isso com a tranquilidade – e porque não dizer prazer – de saber que todos que estão aqui presentes fazem parte dessa classe superior sobre a qual me refiro. Todos os que antes parasitavam em nosso meio, manchando a honra de nossa escola, foram excluídos e devidamente encaminhados ao departamento criado para o trato deles no Ministério da Magia.

- De qualquer forma posso concluir que nem todos aqui presentes se encontram satisfeitos nesse momento. Alguns, infelizmente, preferem negligenciar a honra que lhes foi dada através de seu sangue imaculado. A esses que insistem em corromper o nosso ideal adianto que não haverá misericórdia.

Foi então que, pela primeira vez, Luna viu Snape abrir o que realmente parecia um sorriso. Nunca o vira tão feliz, mesmo que seus olhos ainda permanecessem frios. Um calafrio coletivo pareceu percorrer por todos os presentes e todos por um instante desviaram o olhar do diretor que parecia estar diante de um incrível espetáculo.

- Nos nossos tempos de maior glória os castigos definiam a crueldade merecida àqueles que não seguiam as regras. Pois agora estarão de volta, de forma ainda mais intensa, de forma a recuperar o tempo perdido e, principalmente, o juízo daqueles que se esqueceram da importância do líquido precioso que lhe corre nas veias.

- Por favor, não há porque temer, não veem? Estou a todo tempo a reafirmar a glória que todos tem em estar aqui. O medo cabe apenas aos que se recusam a aceitar nossa majestosa realidade. Nossa grade curricular foi reformulada. Os professores tem o dever de transmitir a vocês a verdade que esteve durante tanto tempo oculta. Algumas matérias sofreram alterações necessárias, tudo para que vocês tomem consciência da verdade que nos cerca. Mas não tenho paciência para esses detalhes sem importância. Nas primeiras aulas os professores lhes darão maiores informações.

- Quanto ao quadro de professores, aliás, também houveram mudanças – nesse momento um dos novos professores, um dos homens que viu no ministério meses atrás, se levantou esperando ser apresentado – Mas os conhecerão quando for necessário. Apresentações me irritam.

O senhor voltou a se sentar, visivelmente encabulado, e todos suspiraram (por um momento pareceu que ninguém mais podia respirar) imaginando ter sido aquele o fim do pronunciamento.

 - Mas é claro – e a voz grave e rouca ecoou novamente surpreendendo mais uma vez (“Mas que mania irritante” pensou Luna) – Que não poderia deixar de anunciar-lhes um fato muito interessante. Talvez se lembrem de um certo rapazinho que espalhava pelos corredores de nossa escola que seria o único capaz de derrotar o Lord das Trevas. Quanta petulância! Apenas a ideia de acreditar no que ele dizia me parece mais ridícula. Pois bem, podem olhar para os lados e perceber que Harry Potter não está entre nós. Sim, ele fugiu, abandonando todos os que foram retardados o suficiente para pensar que lutariam ao seu lado – e ele riu mais uma vez, de forma ainda mais sonora e aterrorizadora – Lutar? Procurem lembrar quem são, caras crianças. Mal podem empunhar uma varinha! Mas ainda há esperança, devo lembrar-lhes mais uma vez. Vocês tem a honra de fazer parte do renascimento de uma espécie sem defeito. Não negligenciem isso. Agora, sirvam-se.

Como se fosse possível. A comida demorou um pouco para aparecer e – talvez por toda a situação ou porque os elfos da cozinha agora eram castigados a todo momento e não estavam satisfeitos com isso – a comida não tinha mais a mesma graça que antes. Ainda assim Luna pegou algumas bolinhas de leite, mas não conseguiu comer. Estavam amargas como se tivesse sido feitas de leite estragado.

Triste mesmo era lembrar de como aquele momento costumava ser divertido. Todos rindo, se cumprimentando, matando as saudades e contando as novidades sobre as férias. Agora o silencio ecoava num tom melancólico e angustiante. Não haviam razões para rir, os cumprimentos eram desagradáveis e as novidades eram sempre tristes. Mas poderia se encontrar consolo em ver como os sonserinos se mostravam satisfeitos. Claro que eles também eram afetados com os problemas a volta, mas eles realmente acreditavam que seriam os maiores beneficiados com a tal história de “raça pura”.

- Nunca pensei que um nome coubesse tão bem – Luna cutucou Michel Corner, que estava sentado ao seu lado – Esses sonserinos são mesmo uns sonsos.

O menino, que se assustou ao ouvir Luna falar com ele, olhou para os lados, receoso. Ao se certificar de que ninguém tinha visto, acenou rapidamente e se afastou nervoso. Nada que tenha a incomodado. Ela simplesmente voltou a atenção para a revista e só a deixou de lado depois que parou para perceber que o salão já estava praticamente vazio.

Apesar de gostar da movimentação das pessoas, Luna sempre esteve mais habituada ao silencio. Provavelmente já tinha passado do horário estipulado para o “toque de recolher”, mas ela sempre fora especialista em passar pelos corredores no meio da noite sem ser percebida. Não era a toa que conhecia todos os fantasmas da escola. Era esse o seu horário predileto para sair, visitar o observatório e olhar as estrelas.

Ao enfim se levantar da mesa de sua casa em direção a saída, ela reparou que não estava absolutamente sozinha. A mesa da Grifinória ainda tinha um integrante. Feliz, ela se aproximou devagar.

- Legal você não ter medo do Filch, Neville. O segredo é fazer carinho na Norra. Ela pode ser uma gatinha adorável.

- Adorável?! – Neville respondeu desacreditado – Eu duvido um pouco...

- Então porque ainda está aqui? Já esperando o café da manhã?!

- Não sei... – respondeu cabisbaixo – Eu nem sei o que fazer quando tiver que me levantar daqui.

Os dois ficaram em silencio por alguns instantes, até que Neville falou mais uma vez.

- Você viu o novo diretor? – disse em tom irônico - Ele é nojento... poderia ser qualquer um, mas não ele! Isso é uma afronta! Ele é o assassino de...

- Melhor medir as palavras, Neville – Luna o interrompeu – Essas paredes sempre tiveram ouvidos, olhos, talvez até asas! É perigoso falar.

- Eu sei – e ele virou o rosto, revoltado.

- Mas se quer saber, acho que você não sente medo.

- Acha?

- Seus olhos, eles dizem outra coisa.

- E o que eles dizem? – ele perguntou se aproximando da menina.

- Shhi! – Luna levou o dedo indicador aos lábios em sinal de silencio – É um segredo que você vai descobrir... no tempo certo.

Serviu para Neville abrir um breve sorriso e resolver finalmente ir para seu dormitório. Luna o seguiu silenciosamente até o ponto em que os caminhos dos dois se separaram em direções diferentes. Ao se despedirem, Neville parou pensativo:

- Você ainda tem aquela moeda que nós usávamos para anunciar as reuniões da AD, Luna?

- Nunca me separo dela! – falou puxando o galeão do bolso – É como uma lembrança de bons momentos.

- Ótimo, boa noite! – Neville respondeu e seguiu as escadarias em direção à comunal da Grifinória.

Luna também seguiu em direção ao salão da Corvinal, pulando (com uma agilidade invejável) cada degrau das escadas que se movimentavam a todo tempo. Chegando à entrada, deparou-se com dois garotos que dormiam encolhidos no canto. Provavelmente calouros que se desesperaram a ponto de não conseguir responder o enigma de entrada feito pela fechadura em forma de águia.

- Vocês precisam responder o enigma!

Eles se entreolharam assustados.

- Por favor, fale baixo! Nos disseram que os castigos para quem desobedece o toque de recolher são severos... mas já tentamos de tudo... – disse um deles.

- E não há como resolver! – completou o outro.

Luna pareceu não entender o desespero dos dois.

- Como não? Se acalmem... vocês fazem parte da casa onde se encontram os mais sábios e inteligentes alunos de Hogwarts. Se foram escolhidos é porque são plenamente aptos para responder a questão!

Como não obteve resposta, Luna preferiu acalma-los e entrar no salão comunal de uma vez. Se voltou para a porta de entrada e tocou na tranca de bronze em forma de águia.

- Boa noite, Srtª Lovegood! Talvez consiga ajudar seus novos colegas.

- Sei que eles poderiam responder seu enigma, mas contar com a ajuda dos mais experientes é sinal de humildade e sabedoria também.

- Talvez. A pergunta é a seguinte: Qual a palavra de quatro sílabas e vinte e seis letras?

- Hum – disse a menina pensativa – Muito criativo!

- Somente responda, senhorita – respondeu a aldrava secamente.

Luna então se voltou novamente para os garotos se mostrando paciente

- E então... realmente tentaram pensar sobre a questão?

- Sim! Claro que sim! Mas não existe essa palavra! – respondeu o garoto cada vez mais vermelho – Qual palavra tem apenas quatro sílabas mesmo contendo todas as letras do alfabeto?

Luna sorriu e se aproximou novamente para a fechadura.

- Acho que ele já encontrou a resposta.

- Não sei se ele tem consciência de que encontrou a resposta – a fechadura se mantinha impassível.

- Ora, são calouros, talvez ainda não saibam organizar bem suas ideias! Mas foram muito bem! A resposta certa é “alfabeto”.

E os dois meninos se olharam impressionados enquanto viam a porta se abrir vagarosamente. Agradeceram a Luna e a viram seguir para seu dormitório da mesma forma que fazia antes da temporada de férias em casa.

E mesmo com seu invejável talento para dormir como pedra desde o momento em que se deita, Luna não conseguiu descansar, mais uma vez. Desde aquele ataque à casa dos Weasley ela percebera como os riscos estariam sempre à espreita. De qualquer forma ela sempre teve o excelente hábito de dormir de sapatos, o que significa que sempre teve o cuidado de se manter preparada para qualquer situação.

Mas a noite passou de um jeito estranho. O tempo se arrastava com aquele temor, medo de alguma coisa pudesse acontecer a qualquer momento. Mas também havia o medo do que o dia seguinte traria. E essa ansiedade fazia com que todos quisessem que a noite durasse mais um pouco. Não durou.



- Capítulo 4 -
 

Antes mesmo que o dia clareasse, uma sirene ensurdecedora obrigou os alunos, professores e provavelmente qualquer um que estivesse num raio de dez quilômetros de distancia da escola a acordar de repente. A nova direção havia determinado que era aquele o novo horário para despertar, e ninguém ousava reclamar da decisão, por mais irritante que fosse.

E talvez tenha sido a sonolência que fez com que o café da manhã fosse tão silencioso. Luna comeu sem nem perceber o que punha na boca, principalmente porque a falta de gosto fazia perder o interesse. O novo diretor provavelmente reformulou o cardápio para tentar tornar a vida dos alunos ainda mais insuportável. Ao pegar os novos horários, uma nova surpresa. Suas primeiras aulas seriam com o novo professor, Amico Carrow. Não era segredo para ninguém que ele era um Comensal da Morte, o assassino de Patrick Jones, e provavelmente sequer havia terminado os estudos. A expressão de nervosismo ao ver os alunos entrarem na sala deixava bem claro que ele não tinha a mínima ideia do que faria. Mas pessoas ruins sempre encontram espaço onde o medo se manifesta. Os alunos àquela altura não sabiam o que esperar das aulas – da matéria agora chamada de “Arte das Trevas” – e de um professor conhecido somente pelas atrocidades que fez ao lado daquele-que-não-deve-ser-nomeado.

- Hum, os alunos da sonserina me pareceram mais animados – disse entre risadas nervosas e cheias de ironia – Ah, mas não precisam ter medo. Quer dizer, não por enquanto. Não vou fazer nada que não tenham ouvido falar antes... só vou tornar as coisas mais interessantes!

A partir de então Luna passou a não prestar mais atenção ao  que o “professor” dizia. Seu pai havia lhe alertado de que situações como aquela iriam acontecer e ela devia permanecer na ideia de “reter somente o que é bom”. Naquele caso, não havia o que aprender. Passou então a reparar no estado em que Carrow se encontrava. Os olhos eram escuros e com olheiras que no mínimo significavam que ele não dormia a alguns séculos. Vestia uma túnica preta que fedia mesmo a alguns poucos metros de distancia. “Será possível que só porque eles decidem ser os vilões não são capazes de tomar banho?!” pensou consigo mesma. Claro que deixar de tomar banho as vezes pode ser saudável. Nas manhãs frias tomar banho além de desagradavelmente gelado era também um chamarisco para doenças respiratórias. Mas chegar a um ponto daqueles era absurdo! Tinha um sabonete de cebola na bolsa, talvez pudesse fazer com que ele fosse parar na mesa sem que ele percebesse...

- Srta. Lovegood, suponho – pelo visto ele havia percebido o quanto ela estava distante – Você é a cara da maluca da sua mãe, só que tão estranha quanto o pai.

- Oh, obrigada! – a menina respondeu com um sorriso.

Carrow pareceu estranhar a forma como Luna interpretou a ofensa e preferiu ignorá-la dali em diante. Não que isso incomodasse a menina de alguma forma. Mas ela iria tentar empurrar o sabonete assim que tivesse chance. E sim, ela conseguiu.

A aula seguinte seria melhor - Transformação com a Srª MacGonagall juntamente com os alunos da Lufa-lufa. Ao entrar na classe logo se percebia o clima pesado que insistia em circundar a escola, mas se algum aluno imaginou que ela iria se manter abatida pela situação que havia sido imposta, se enganou. Continuou dando suas aulas com o mesmo cuidado de sempre, mesmo insinuando uma certa irritação ao acrescentar o que haviam lhe obrigado a dizer. A todo momento um corvo negro e enorme – com certeza um comensal animago transformado – acompanhava a aula a todo instante, vigiando cada momento. Provavelmente a diretoria sabia que a Srª MacGonagall não perderia a oportunidade de encorajar os alunos a uma rebelião. Ao fim da aula, a professora se aproximou de Luna disfarçadamente e cochichou olhando de lado:

- A Srtª Weasley pediu para lembrar-lhe de um certo valor que lhe deve. Uma quantia especial. Um galeão, eu acho. Considero importante honrar a pendencia, Srtª Lovegood.

Luna acenou positivamente e se despediu. Era horário de almoço e daria um jeito de se aproximar de Ginny. Sair da mesa de sua casa para conversar com os alunos das outras casas passou a atrair a desconfiança da equipe de “segurança” que agora rondava a escola. E Luna imaginava que sua amiga, especialmente, deveria ser ainda mais vigiada. Todos sabiam que os Weasley eram aliados de Harry, e Ginny, especialmente, era a namorada do garoto mais procurado do mundo bruxo.

Mas a solução foi simples. Era dia de entrega do correio e todas as corujas estavam no corujal depois de terem trazido as encomendas mandadas pelos familiares logo pela manhã. Luna resolveu mandar um recado para Ginny por sua corujinha recém adquirida. Claro que todas as correspondências estavam sendo violadas pelo Ministério, mas sempre que aprovadas recebiam um carimbo de confirmação, assegurando de que não havia nenhuma informação perigosa ou prejudicial ao ministério. Luna havia recebido um recado de seu pai que havia sido aprovado:

“Lunny,

Os dias continuam frios, você faz falta, mas estou bem. Cuide de sua coruja e a alimente constantemente. De qualquer forma sei que sempre vai até o corujal, então não dê todos os pedaços de carne para os trestrálios.

Te amo.                   

Xenófilo Lovegood.”



Luna simplesmente grifou a parte referente ao corujal e pendurou firmemente numa das patas de sua corujinha, torcendo para que a menina entendesse o recado. Ninguém estranharia que ela recebesse uma correspondência atrasada, já que com a “revisão” atrasos se tornaram comuns. Com o recado enviado, Luna desceu para almoçar e tomou o cuidado de se sentar de frente para a mesa da Grifinória.

Então a mini-coruja cruzou o salão atrapalhada e parou diante da mocinha ruiva na mesa adiante. Ginny estranhou a visita inesperada e oscilou antes de pegar o embrulho trazido. Até que com um pio impaciente resolveu receber. Antes, porem, de ler o conteúdo, um dos grandalhões mal encarados foi ao seu encontro e retirou abruptamente o pedaço de pergaminho das mãos da menina. Ao ler manteve a mesma cara de quem está sentindo algum cheirinho desagradável até soltar uma risadinha irônica.

- Corujinhas burras! A correspondência nem é para você, garota. De qualquer forma recebeu o carimbo de aprovação. Procure a quem pertence e devolva a correspondência.

E jogou o recado na mesa diante de Ginny, antes de se virar em direção a saída, arrastando a capa preta pelos corredores do refeitório. Ginny leu rapidamente o recado e olhou para Luna de relance. Se levantou e foi em direção a amiga na mesa da Corvinal, entregou o recado e a corujinha nas mãos de Luna e sorriu. Ela havia entendido o recado.

Pouco tempo depois as duas já conversavam em companhia de todas as corujas da escola. Ginny parecia ainda mais ansiosa que no dia anterior.

- Mal consigo respirar... não passou sequer um dia e eu já não suporto mais continuar aqui, parada. Imaginando onde Harry está, se Rony está atrapalhando os planos dele...

- Atrapalhando? Seu irmão é mais brilhante do que você pensa, Ginny – Luna advertiu.

- Ah, Luna! Eu poderia ser muito mais útil que ele! Eu faria qualquer coisa para ajudar o Harry... qualquer coisa... – lamentou a menina - Pelo menos ele tem a Hermione.

- Você ainda pode ser útil, Ginny – falou na tentativa de acalmar a amiga.

- Sim, Luna, eu posso. Por isso que pedi que a Srª MacGonagall te desse aquele recado. Talvez você não tenha entendido tão bem, mas sabia que daria um jeito de falar comigo. “Eles” me seguem para todo lugar que vou... tenho evitado falar até com Neville.

- Mas ele também lhe lembrou dos galeões da AD. Eu sei, ele falou comigo na primeira noite – Luna falou enquanto tentava responder ao olhar fixo de uma coruja.

- Devia esperar que você entendesse a charada – Ginny falou sorrindo.

- Bem, se não fosse relativamente boa em questões lógicas não poderia fazer parte da “casa dos sábios” – Luna respondeu num tom de orgulho combinado com um sorriso – Para ter acesso ao nosso salão comunal temos que responder a pergunta que a fechadura faz. É o código.

- Já ouvi falar do diferencial da sua casa... mas voltando ao assunto, estive pensando sobre o que fazer com a AD.

- Fale – Luna falou enquanto se encostava no batente da janela – Estou ouvindo.

 - Falamos sobre voltar às atividades durante a viagem no expresso, mas sinceramente acho que as perspectivas não são boas – Ginny falava enquanto andava de um lado para o outro – Sabe, alguns dos antigos membros da AD vieram me procurar e disseram que não estão mais tão dispostos a correr o risco de serem pegos por Snape. Claro! A lista de castigos é enorme, você já viu?! Toma cinquenta e cinco quadros da ala de avisos e estão em ordem crescente de gravidade, sempre um mais cruel que o outro. E sabe qual é o último da lista?

- Se unir a Harry Potter ou a qualquer outra coisa ligada a ele – respondeu uma nova voz vinda da escada.

- Neville?! – disse Ginny surpresa.

- Luna me mandou um aviso pelo galeão. As segui até aqui – a expressão dele parecia ansiosa – Já que estão falando sobre isso, vocês tem alguma sugestão sobre como agir de agora em diante? Já adianto que não aceito nada parecido com alienação.

- Justamente, nós queremos agir, mais ninguém! – concluiu Ginny impaciente.

- Existe uma regra geral de organização que diz que “cada um dá o que tem” – Luna falou enquanto parecia olhar para fora – Para o sistema chegar ao seu objetivo é preciso observar o que se tem disponível e usá-lo da melhor forma.

- E o que você quer dizer com isso? – questionou o garoto.

- A únicas coisas que temos somos nós mesmos – disse Ginny

- Que seja, então. Não vejo problema em agirmos sozinhos, basta um pouco de esperteza para saber o que fazer de forma prática – Luna respondeu calmamente – Eu sempre lembro como, ano passado, mesmo tendo treinado um grupo tão bom, somente seis chegaram a lutar de verdade naquele Ministério. E com sucesso.

Alguns segundos se passaram sem que ninguém falasse nada. Apesar de estranha, a ideia de agir por si mesmos fazia sentido. Mesmo que naquele momento qualquer coisa que não fosse aceitar aquela situação fizesse lógica.

- De qualquer forma – Neville interrompeu os pensamentos das meninas – Ainda não consegui pensar em quê poderíamos fazer por aqui.

- Ajudar Harry de alguma forma! – Ginny disse em reflexo.

- Certo, concordo – o garoto continuou – Mas sequer sabemos onde Harry está ou mesmo o que anda procurando... como vamos ajuda-lo se talvez nem ele saiba o que fazer?

- Harry sabe o que fazer – Luna falava no mesmo tom sonolento de sempre – Talvez não tenha se dado conta, mas faz parte do destino dele. Sempre fez.

- Também acho, Luna. É justamente por pensar que Harry anda sem rumo por ai que os outros desacreditaram nos ideais da Armada. Nós aparentemente ainda somos os únicos que ainda alimentamos esperanças por aqui, não podemos sequer pensar em colocar isso em dúvida.

 Ginny falava e a cada palavra se mostrava ainda mais confiante. Era notável como o seu rosto chegava a corar diante da vontade de agir rápido. Neville, no entanto, ainda parecia preocupado.

- Eu acredito em Harry, nunca coloquei isso à prova – ele disse parecendo se explicar – Mas agora não o temos mais aqui e precisamos saber o que fazer! Inicialmente pensei que voltaríamos a treinar a equipe, mas já ficou claro que isso não vai mais acontecer. Certo, precisamos de um plano, mas para isso temos antes criar objetivos.

- Proponho então que se pense em novos objetivos nos próximos dias! – Luna saltou animada – Pensar em um objetivo já é um objetivo em si, pelo menos por enquanto.

- É, me parece meio complicado... mas parece que é o que podemos fazer por enquanto  - concordou Neville –  A qualquer sinal usaremos os galeões, como antes.

Quando todos concordaram e saíram do corujal (um de cada vez para tentar não atrair suspeitas, claro) os pensamentos continuaram difusos. A sensação era de obsolência, como se estivessem vivendo um pesadelo do qual não sabiam como acordar. Passaram dias sem que nenhum deles se encontrasse, pelo menos não de forma suficientemente segura para tentar pensar juntos numa saída. Mas ninguém esperava que uma possível solução aparecesse numa situação tão cruel e improvável.

Na semana seguinte, ainda quando tudo parecia insuportavelmente igual, a nova direção da escola resolveu revelar qual a sua verdadeira intenção. Mais especificamente quando Luna assistia à aula de Poções tilintando de frio enquanto professor parecia se divertir com a tortura de fazer os alunos prepararem poções “Congela Ossos” em plena masmorra subterrânea. Um burburinho aparentemente vindo dos corredores começou a chamar a atenção de todos, até que os passos no piso superior começaram a incomodar demais. O professor saiu irritado e todos os alunos (que já procuravam algum motivo para fugir daquele frio) o seguiram, mesmo com a ordem de permanecer na classe.

No salão um aglomerado de alunos se reunia, aparentemente todos membros da Grifinória.  A confusão era grande. Alguns alunos do primeiro ano choravam desesperadamente de um lado, enquanto a Srª MacGonagal parecia transtornada falando aos berros com o mal encarado Carrow, que ouvia tudo espumando pelos cantos da boca. Mas a explicação para tanta balbúrdia era realmente... realmente... inexplicável.

Pelo que se pode ouvir da discussão, o novo professor resolveu que seria conveniente que os alunos do sétimo ano aplicassem seus “conhecimentos” em magia negra nos calouros. Simplesmente pediu que atingissem, da melhor forma que pudessem, os alunos mais novos com a maldição cruciatus. Claro que o primeiro a ser indicado para a infeliz tarefa foi Neville, por motivos cruelmente óbvios.

Mas mais óbvio ainda era a atitude do garoto diante daquilo. Neville se enfureceu e acabou socando o professor, o que provavelmente ocasionou o inchaço no nariz naturalmente feio. E apesar do ato admirável, o amigo de Luna sofreu as consequências do que fez. Foi atingido pela própria maldição que se recusou a fazer por algumas vezes até que a Profª Minerva chegou e interrompeu a tortura.

De qualquer forma ele foi levado à sala do diretor e estava sujeito a outras crueldades previstas nos novos regulamentos de conduta. E nesse momento Luna procurou Ginny entre os outros alunos para tentar pensar em como ajuda-lo, mas a busca foi sem sucesso. Por alguns instantes teve medo. Pensou em fazer tudo para proibir Neville de fazer qualquer outra loucura como essas da próxima vez que o visse. Mas não teria como. Foi realmente admirável enfrentar a situação tão bravamente. Aquele ardor nos seus olhos no primeiro dia... ela sempre soube que seria assim.

No momento do jantar os lugares de Neville e do novo diretor estavam vazios, o que gerava ainda mais preocupação. Apesar das ameaças, aquela era a primeira vez que um aluno era castigado de fato. A comida estava horrível, fosse porque os elfos tiveram ainda mais má vontade dessa vez ou porque era impossível pensar em comer numa hora dessas. A mesa da Grifinória, especialmente, parecia ter vindo de um velório. Os alunos primeiranistas continuavam amedrontados e já teriam mandado corujas pedindo aos pais para voltar para casa se não fosse passível de castigo quem o fizesse. Luna não podia mais esperar para falar com Ginny, faria isso de qualquer forma. Levantou-se da mesa de sua casa e foi em direção à saída com o galeão na mão.

- Não pense que não sabemos quem é ou o que fez, garota – falou gravemente a criatura que a puxou de repente de volta para o salão.

- Capítulo 5 –
Não era possível ver nada além dos olhos molhados, mas pela voz parecia ser um homem. Apertava o braço de Luna com tanta força que chegou a machuca-la. Ele não disse mais nada, mas mantinha o olhar suspenso e a menina realmente pensou se ele não tinha necessidade de piscar as vezes. E ela pensou também em falar muitas coisas. Pensou em gritar, bater, lhe jogar um feitiço ou qualquer outra coisa. Mas não seria prudente, ela sabia.
- Nunca pensei que fosse famosa – falou ironicamente – De qualquer forma preciso subir para o meu dormitório.
- Precisa voltar e jantar como todos os outros alunos, foi essa a ordem – esbravejou fazendo jorrar gotinhas de cuspe para todos os lados – Comer e não pensar em rebeliões!
Luna se soltou abruptamente e passou a corresponder o olhar com mal humor. Era uma situação tão revoltante. Seu pai uma vez lhe dissera que deveria encontrar em momentos assim a oportunidade de se conhecer melhor. E dessa vez Luna descobrira como é sentir (de verdade) raiva de alguma coisa.
“Eles realmente esperam que façamos alguma coisa” pensou. Nada ficaria mais fácil com todos os grandalhões malignos que rondavam Hogwarts de olho neles, definitivamente. Por mais que soubessem que seria assim, era realmente angustiante ver tudo se concretizando daquela forma. Teriam que agir de forma ainda mais cuidadosa, e isso iria requerer muito mais do que já foram capazes antes.
De repente o olhar do homem se direcionou para a entrada do salão. Alguém estava ali. Luna não se surpreendeu ao perceber que era Ginny que havia chegado, provavelmente para defende-la, como sempre fez desde que se conheceram.
- Hum! O diretor da escola vai gostar de saber que as duas amiguinhas de Harry Potter marcaram de se encontrar durante o jantar! – ele disse entre um sorriso sarcástico, mostrando aqueles dentes prateados e nojentos.
- E vai saber também que um dos seus capachos com cérebro de ameixa anda interferindo em minhas atividades extracurriculares com os alunos da escola – a voz inflexível da Profª MacGonagall surgiu de repente. Ela tinha vindo logo atrás de Ginny.
- Mas... – ele começou a gaguejar, nervoso -  A senhora nem sabe o que estou fazendo! A garota estava desobede...
- Estava obedecendo uma ordem minha! – ela interrompeu – Eu pedi que trouxesse no horário do jantar a atividade que fez ano passado em minha aula para que pudesse mostrar seu bom desempenho como exemplo para os novos alunos!
- Ela se esqueceu e foi pegar agora, antes que a professora se recolhesse – completou Ginny, nervosamente.
- Exatamente – completou a docente – Agora se o senhor permitir.
Ela fez menção de sair e levar as meninas para outro lugar, mas ele voltou a pegar o braço de Luna.
- Acho que devo comunicar o que aconteceu aqui para meus superiores!
- Faça isso! – a Srª MacGonagall já estava ficando impaciente – Duvide de minha palavra e a ponha a prova! Gostaria de saber em quem eles irão acreditar.
A ameaça surtiu efeito e ele soltou o braço de Luna se afastando em direção às masmorras. As meninas se olharam ofegantes, como se tivessem sobrevivido ao ataque surpresa de um urso gorrador (espécime rara da América do Norte, ainda pouco estudada e não reconhecida pelo Ministério da Magia. Ainda) e não atreveram a se mexer até sentirem segurança suficiente. A professora e as meninas seguiram para o saguão em silencio até que mudaram o rumo. Aparentemente a Srª MacGonagall as levaria para a enfermaria.
- Por Merlim, não façam mais isso! – ela falava cautelosamente – Vocês não tem noção do inferno em que esta escola está inserida. O que aconteceu hoje foi somente um aviso, uma pequena prova. Mas ainda assim sei que vão insistir em fazer alguma coisa para impedir, então...
A professora parou de repente e se voltou para as duas, já estavam diante da porta da enfermaria onde agora
 havia pendurada uma grande placa dizendo “ENTRADA PERMITIDA SOMENTE PARA PESSOAS AUTORIZADAS”.
- ...Seja o que for, contem comigo! – ela completou com um sorriso constrangido que faziam dos seus lábios um fino traço vermelho.
- Neville está aqui agora. Ainda não o vi, não tive autorização, mas usei do direito de zelar por ele, já que sou a responsável pela casa que ele pertence e isto ainda é constitucional. De qualquer forma não sei como está, então sejam fortes. Só as trouxe porque sei que estão tão preocupadas quanto eu.
Respiraram fundo enquanto a professora fazia o feitiço de desbloqueio da porta e entraram. A enfermaria parecia vazia, a não ser por um sinal de movimento no fim da fileira de macas. Era Neville. Ginny pareceu soluçar por um instante (ela andava bem sensível nos últimos dias) e correu até ele. Luna não teve pressa em vê-lo da forma que achava que veria, mas teve uma agradável surpresa ao se aproximar mais do amigo.
O garoto sagrava nos cantos da boca e estava com o nariz e os olhos inchados. Haviam alguns machucados pelo corpo, e uma atadura lhe envolvia a testa, mas ele continuava lúcido e muito melhor do que poderia se imaginar sobre alguém que a pouco tinha sido torturado. Mais estranho (ou incrível) era como parecia satisfeito.
A Srª MacGonagall deu um suspiro de alívio quando o viu e lhe acariciou os cabelos. Ginny ainda estava sentada num canto da maca e Luna pegou uma das mãos do garoto num gesto de solidariedade. De repente a professora pareceu se lembrar da obrigação de alertá-lo pelo que fez e voltou à postura séria de antes:
- Por Merlin, Sr. Longbotton! Deveria fazer algum esforço para não se meter em situações como essa...  – e ela parou de repente. Provavelmente depois de perceber que ela faria o mesmo se estivesse no lugar dele.
- Eu não podia fazer o que aquele cara imundo estava me obrigando a fazer! Ele sabia muito bem que... – Neville parecia se conter – Foi horrível. Nunca vou me esquecer daquela sensação... Não é dor, sabe. É pior, é como se... só de pensar... não consigo explicar, mas não importa. Se querem saber, só serviu para me convencer ainda mais a não passar nem mais um minuto de braços cruzados!
- Não precisa se preocupar com isso agora – Ginny falou compadecida – Podemos esperar você se recuperar.
- Eu não quero esperar! – Neville afirmou parecendo ansioso – Sei que você também não! Nós vamos fazer alguma coisa, e eu finalmente sei o quê!
- Só um instante! – a professora interrompeu. Por um instante pareceu que ela iria repreendelos, mas não se esperaria isso da Srª MacGonagall. Ela simplesmente fez um sinal de silencio e se afastou. A alguns passos de distancia, passou a evocar feitiços silenciosamente. Estava criando um escudo contra sons protegendo somente os três alunos – É mais seguro que eu não saiba o que planejam.
- Confiamos na senhora, professora! – Ginny falou em tom de esclarecimento.
- Eu sei, minha querida – respondeu a Srª Minerva – Mas não gosto de pensar no risco de ser obrigada a entregar os planos de vocês. De qualquer forma tenho minha conduta como professora. Melhor que fique somente entre vocês.
Depois de feita a proteção, ela se afastou e seguiu em direção à entrada da enfermaria, provavelmente protegendo-os de alguma visita surpresa indesejada. Os três olharam-se novamente e Neville voltou a falar sobre o que havia acontecido.
- Como eu ia dizendo – o garoto ficava cada vez mais corado – Fui levado à sala dele... do diretor. Pensei que haveria algum outro castigo, mas ele se limitou a rir da minha cara e me dar uma suspensão, juntamente com uma advertência mandada diretamente para minha avó.
- Só isso? – Ginny pareceu surpresa – Mas era uma das penalidades máximas contrariar professores ou funcionários de alto cargo.
- Bem, Neville sempre disse que a avó era durona. Talvez Snape achasse que isso o assustaria o suficiente – disse Luna
- Acho que não corro o risco de chateá-la – Neville sorriu – Ela me mandou pra cá com a minha promessa de que seria tão corajoso quanto os meus pais. Na verdade acho que vai até gostar de saber.
- Mas o que me surpreendeu mesmo foram as coisas que vi por lá. Na verdade, uma em especial. É algo poderoso demais, ele deve ter planos para usá-la em alguma situação, talvez até contra Harry! Não podemos deixar...
- Neville! – Luna o interrompeu estalando os dedos – Você ainda não disse o quê viu de tão importante!
Ginny deu uma risada tímida e voltou a olhar o garoto com um ar de curiosidade.
- Ow, claro – Neville também riu rapidamente – Desculpem. Eu vi a espada. A espada de Godric Grinfindor.
- Bem, foi com ela que Harry matou o obelisco – Ginny lembrou rapidamente, parecendo pouco confortável – Ficou aos cuidados de Dumbledore depois disso, mas Hermione me contou que ele a havia deixado para Harry em seu testamento.
- Desculpe, Neville – falou Luna, inesperadamente – Mas sente algum tipo de cosquinha na cabeça?
Sem entender o porque do questionamento, Neville respondeu com uma careta. A menina começou a balançar as mãos para os lados, como se quisesse afastar alguma coisa e continuou:
- De qualquer forma, acho que o testamento de Dumbledore não poderia ser válido, pelo menos não nessa parte que se refere à espada. Ela foi deixada pelo fundador da casa da Grifinória, para os alunos capacitados a usá-la quando necessário... Dumbledore não poderia oferecer o que não lhe pertencia.
- Faz sentido... Mas como ele não sabia disso?!
- Talvez soubesse – concluiu Neville.
Seguiram alguns instantes sem que nenhum dos três dissesse nada. Nenhum deles conheciam o antigo diretor tão bem para tentar adivinhar o que se passava em sua mente quando fez aquilo.
- Ele não deixaria nada que não fosse útil a Harry... – Neville quebrou o silencio.
- Concordo – afirmou Ginny – Talvez fosse um alerta de que ele precisaria da espada mais uma vez.
- E Snape deve saber disso – o garoto se levantou da maca num salto – A espada estava trancafiada, totalmente protegida. Ele definitivamente não quer correr o risco de que ela suma das suas vistas e vá parar nas mãos de Harry. E é exatamente isso que devemos fazer.

[... Continua ...]

OBS: E eu nunca terminei. Até tenho algumas partes prontas, como uma parte do tempo em qu ela fica presa no calabouço dos Malfoy e depois, na cabana das conchas... quem sabe um dia, quando a Luna voltar pra mim, eu consiga terminar o livro-fanfic. Quem sabe?

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