Certa vez, lá estava eu em um dos projetos realizados pela igreja. Era um trabalho novo e que estava começando a atrair, especialmente, as crianças do bairro onde era realizado. Como acontecia duas vezes por semana, a galerinha aguardava anciosa a chegada dos dias de reunião, e todos que faziamos parte adorávamos isso. Em mais uma noite de trabalho mais uma vez as crianças estavam lá, juntas com os adultos, cantando e alegrando a todos que estavam presentes. Mas lá atrás, na porta do local, sentado a beira da calçada, estava um menino miudinho, sem camisa, do lado de um cachorro encardido espiando tudo que acontecia lá dentro. Ele era conhecido por todos e sempre ia nas reuniões, mas dessa vez, por mais que insistissem, ele não entrava. Chegaram mais crianças, a ponto do lugar ficar cheio demais, e eu sedi meu lugar para uma delas. Fui para o outro lado, quase do lado de fora, e vendo o menino sentado na calçada, fui tentar convencê-lo a entrar. Ele então olhou para mim, com os olhinhos cheio de lágrimas e todo envergonhado disse: "Eu não posso tia, eu não tenho sandálias". Me abaixei para ficar na mesma altura que ele e disse baixinho que ninguém nem ia notar, mas como ainda assim ele relutou, eu prometi escondê-lo atrás de uma das cadeiras. Sendo assim, ele foi. Ainda tímido, mas foi.
Tudo corria bem, até que chegou a hora em que as crianças se separavam dos adultos para terem sua própria reunião com a Tia Antonia, e o menino olhou para mim assustado. Ele não ia ficar na frente de todos descalço. Peguei a mãozinha dele e fui (ele lutando para voltar) na direção da sala, e antes que chegassemos, chamei a Tia e cochichei em seu ouvido: " pede todos tirarem os sapatos! ". Ela entendeu a dica, e na mesma hora gritou para todo mundo deixar os sapatos no fim do corredor. Na mesma hora, enquanto as outras crianças jogavam os calçados longe, o garoto sorriu para mim e foi correndo para a sala.
Eu fiquei na reunião dos mais velhos, mas quando estava no fim, não resisti e fui até a sala das crianças. O mesmo garotinho veio na minha direção e falou sorrindo "obrigado por me ajudar, tia!", e naquela hora eu ganhei meu dia.
Aquele menininho fez muito mais por mim do que eu por ele. O que eu fiz foi tão pouco... e eu posso fazer muito mais, se me dispor para isso. Lá no fundo, de qualquer coisa que eu faça, receber mais uma vez um sorriso como aquele é o que vai fazer valer a pena.
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