domingo, 16 de dezembro de 2012

Meus meninos.

De todas as coisas, momentos e pessoas pelos quais passei, não posso me esquecer seriamente daqueles que me transformaram nessa tragédia romana que me tornei (eu tenho que rir enquanto escrevo). Não, não é uma verdade literal, mas ainda assim uma verdade. Lembro muito pouco da minha vida antes de conhecê-los      isso acontece de vez em quando em relação a algumas pessoas      mas tenho quase certeza que antes era alguma coisa parecida com "menininha boba, fofa e carinhosa que amava a tudo e a todos sem exceção". 
Bom, é claro que as coisas não mudaram tanto assim. Mas mudaram.
Lembro do dia em que entrei na sala de aula (porque eu não tinha dinheiro pro lanche e não tinha colegas/amigos dispostos a dividir alguma coisa comigo) achando que ficaria melhor sozinha. Ao ver o carinha esquisito sentado na minha cadeira, tive certeza de que não seria possível. Sem fazer questão do lugar ou de encrenca, peguei minha bolsa e sentei em outro lugar, tudo em silêncio. Foi então que o infeliz se levantou, rindo, e sentou do meu lado "Tem problema você pegar um lanche pra mim na cantina?". Eu devia mesmo ter cara de idiota. Eu até pensei em fazer alguma careta, mas eu já disse que era bobinha demais. Sorri e perguntei o porquê. "Estou esperando alguém, não posso sair" e enquanto respondia, me passava uma nota de R$10. Não questionei o valor alto, ele não devia ter troco. Eu era a única pobre da sala, de qualquer forma. Perguntei o que queria, fui até a cantina e voltei, com o lanche e com o troco. E, adivinhem, só tinha o infeliz na sala. Fiquei com raiva, mas engoli o sapo. 
"Cadê o seu? Não deu tempo de engolir tudo, não é possível!"
"Meu o quê?"
"Eu te dei R$10. Dava pra você e pra mim!"
"Mas você não disse nada"
"Não achei que precisasse..."
"Desculpa, eu não ia pegar seu dinheiro assim."
"Tá, mas o troco é seu."
Eu aceitando dinheiro de estranhos? Definitivamente ele era estranho. E o pior é que todos na sala achavam que a gente se parecia (até hoje devem pensar que a gente armava pra dizer que não eramos irmãos de verdade). E, no fim das contas, ele voltou a falar comigo no dia seguinte. E no outro. E no outro.
Dias depois as coisas em comum apareceram, as diferenças ainda mais. A revolta por saber que eu só ouvia Oficina G3 e o prazer em me mostrar o som pesado que curtia. E eu curti também. Pouco tempo depois nos tornamos num pequeno bando, e eu era a única garota. A garota que ganhou na escola a fama de "sapatão" e ao mesmo tempo de "periguete", e que no fim das contas era só a "doidona" mesmo.
E ao longo de alguns meses, me permiti todas as traquinagens sadias que nunca tinha feito na vida! Tirar onda da inspetora, ouvir música alta nos intervalos, fazer piada dos outros, arranjar "namoradas" pros amigos, fazer apostas bobas e ganhar sempre, falta uma aula ou outra pra assistir algum lançamento no cinema. E eles me ensinaram a tirar proveito da carinha de boba, a me defender me fazendo de desentendida, a rir dos meninos, a nunca acreditar que é verdade, e a fazer de tudo pra ser superior aos meros sentimentos ("não a todos, só aos meros!"). De tudo muito pouco se aproveita, é verdade, mas no meio da bagunça, aprendi a chorar de rir, a ser espontaneamente engraçada do jeito mais bobo, e a ser uma amiga melhor... ou pelo menos uma amiga qualquer. Porque eles foram minha primeira referencia de amizade. E foram eles que me transformam em muito do que sou hoje, com as qualidades e os muitos defeitos.

Meus meninos. Esses que me divirto em fingir não conhecer (mas eu já to enjoando dessa brincadeira) e que  estão sempre disponíveis quando preciso de alguma zoação extra.

Eu não me lembro de ter dito alguma vez. Mas, é, eu amo vocês. 

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