quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Óculos Sutil


Foi quando se olharam nos olhos que a menina caiu em si e esboçou aquele sorriso.
Provavelmente pela primeira vez em muito tempo ela havia visto a si mesma por um segundo. E a cegueira se guardou para os detalhes desinteressantes. Porque por fora não havia nada em comum.
O jeito, o corpo, a face, o mimo, o vocabulário, a cultura em nada se batiam. E até mesmo o nada que poderia ser compartilhado era de fato real. Após algumas palavras trocadas e depois de muito silêncio recíproco, os dois se olharam e se entenderam.

Ele viu todo aquele encantamento de quem, apesar de não sugerir aos primeiros sentidos, estava passiva a machucar e a fazer sofrer qualquer pessoa que por um instante negasse o poder que ela tinha. Tão pequena, tão jovem e tão linda... tão determinada e confiante. Suas certezas pareciam irresistíveis. O fogo nos olhos mostrava que não havia meio termo. Que fosse pago o preço que fosse para mostrar (e reafirmar) o que era e quem era. Ou, no mínimo, quem gostaria de ser.

Ela viu o mesmo moleque que nunca havia deixado de ser. Aquele que sempre pareceu ser o seu maior defeito de repente tomou forma de uma agradável qualidade. E todo esse astral positivo, de quem só quer dar qualquer sentido para a vida, o envolvia de forma descompromissada e ao mesmo tempo séria. Porque enfim entendeu que ele não seria capaz de querer o mal de alguém, principalmente de alguma mulher. Mas se havia alguma chance, alguma oportunidade de sorrir e fazer sorrir outro alguém, então porque não?! E todos sabíamos o quanto parecia bobo, mas lá no fundo o cara convicto era apenas um rapaz ingênuo. Não puro, mas ingênuo. Um pouco tolo, talvez. Mas não haveria lição difícil que a vida lhe ensinasse. Ele aprenderia rápido, as penas não seriam tão duras assim.

Se encantaram. Sorriram e esperaram.
E aquele adeus pequeno, curto, mas convicto    daquele jeito que só faz quem já está de bem    floresceu em cima do túmulo de mais um relacionamento. Partiram como bons amigos que eram e que sempre foram. Mantiveram as lembranças boas antes que as ruins contaminassem o que poderia ser aproveitado. E facilitaram a vida um do outro.

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