sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Lembranças e Conclusões de P. - II

[...] Mas o tempo foi passando, e passando. E quando enfim seus olhinhos derramaram uma lágrima ela resolveu desistir. Procurou e viu que nada encontrava. Orou, mas Deus nunca respondia. Talvez não pudesse mesmo ter amigos. Olhou-se no espelho do banheiro e, enxugando a lágrima, parou e olhou um pouco para si mesma. Até que era uma menina simpática, apesar de ter uma carinha de boba. Seus olhos eram bonitos, seu nariz redondinho e sua boca, bem, era normal, mas de um belo sorriso. Mas uma coisa a garotinha tinha que reconhecer... Não tinha lá muita graça. Graça no sentido de ter alguma coisa para falar, para discutir. Não que fosse burra, tinha ótimas notas na escola. Mas quem, na sua idade, falaria de somas ou geografia?! Essa idéia só fez com que mais lágrimas escorressem de seus olhinhos.
Não demorou muito, resolveu lavar seu rostinho corado. Chorar não adiantaria muita coisa (incrível como se sentia madura as vezes). E assim os dias seguintes foram diferentes para ela. Já que não corria mais atrás de amigos, resolveu se interessar por outras coisas. Foi assim que a garotinha foi crescendo, mudando e aprendendo. E foi assim que ela descobriu várias coisas: que gostava de certos estilos musicais, que livros podem ser ainda mais fascinantes quando você os lê da forma correta, que quando se gosta de uma coisa – desenhar, por exemplo – ela pode se tornar sua melhor companhia. Um ano se passou e de fato Poly não encontrara ninguém. Por mais que tivesse resolvido desistir, sempre esperou por seu amigo. Mas isso já não fazia com que perdesse o sono.
Até que num belo dia de verão, um desses em que lhe vem na cabeça aquela vontade de estar diante de uma praia linda e com uma brisa refrescante, Poly foi convidada para um passeio com o pessoal da igreja. Apesar de ser sempre tão caseira, não pensou duas vezes ao saber que uma piscina enorme estaria a sua disposição por três dias. Pensando nisso, mal reparou nas outras atrações do passeio, entre elas o fato de que várias outras crianças de sua idade, de outras igrejas, também estariam lá aproveitando o passeio como ela. Subiu as escadas correndo até em casa, arrumou depressa a sua maletinha, e ao ouvir a buzina do ônibus e o barulho de um grupo de crianças a sua porta, deu um beijo nos pais e foi sorridente para onde estariam as tão desejadas piscinas cheias de possibilidades de diversão.
O passeio foi ótimo, pelo menos os momentos esperados por Poly foram. Sempre que as piscinas estavam liberadas para uso, as “tias” bolavam várias brincadeiras diferentes. Com bola, com bóias redondas ou em formato de macarrão, de pega-pega na água. Não havia quem não se divertisse em momentos assim. Mas quando a tarde caia e chegava a hora de sair da água, a menina pensava no que iria fazer. Nas horas de brincadeira não tinha com que se preocupar, afinal ninguém ligava pra quem estava do seu lado, desde que estivesse participando e rindo. Mas quando tudo acabava, cada criança ia para o seu canto e a menina se sentia sozinha.
Pensando nisso tinha trazido um dos seus livros prediletos, e isso a ocuparia por um bom tempo se não tivesse a incrível (e neste momento incomoda) habilidade de ler rápido demais. O livro, que nem era lá muito grosso, por melhor que fosse terminou em poucas horas. Assim que terminou o jantar já se sentia preocupada e sozinha. “Não devia ter vindo... grande coisa, uma piscina!”. Até chegou a se aproximar das meninas conhecidas, mas nunca tinha muito assunto, então acabava voltando para o seu canto desolada.
Então, esperando o tempo passar até a hora de ir dormir, Poly, que estava sentada num dos bancos de pedra numa pracinha perto do salão de festas, ouviu de longe uma música conhecida. De repente levantou num estalo. Era uma de suas músicas prediletas! Nem imaginava que pudesse tocar por ali (não era todo mundo que gostava daquele estilo de música). O som vinha do salão. Claro que não havia nenhuma festa, mas alguém resolveu deixar o rádio ligado como som ambiente. Não resistiu e foi correndo até lá. Como o salão parecia vazio, não teve vergonha de fechar os olhos e se bagunçar ao som da música. E como era bom fazer isso... começou a rir com os movimentos e por um momento esqueceu de onde estava. [...]

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