Enquanto você está desperdiçando tempo com inimigos,
Mergulhado em uma febre de rancor,
Para além de sua estreita visão, a realidade vai desaparecendo,
Como sombras na noite.
Se martirizar por prudência,
Não vai ajudar em nada,
Porque não haverá segurança em números,
Quando o Certo sair pela porta."
OBS: Não, não é só a letra ou a voz e guitarra deliciosas de Gilmour. Nha, na verdade é sim Olha só pra isso... me diz: como não amar? Sabe pra quê isso serve? Pra entender que Pink Floyd não é só "The Dark Side of the Moon" e "The Wall" (apesar de serem meus álbuns prediletos - porque afinal são absolutamente conceituais). PF é excepcional por essência. Não desfrutar dos outros albuns é perder MUITA coisa... como uma coisa linda dessas, do álbum "The Division Bell". (último cd da banda, segundo sem Warters, que é o que me dá a impressão de que Gilmour quis continuar compensando a falta fazendo solos lindos e maravilhosos, como em "Marooned" e "Coming Back to Life", para minha alegria!!).
OBS2: Adjetivos que tem a primeira letra em maiúsculo só significam uma coisa pra mim.
"No sábado estive na casa de um casal de amigos (Ricardo e Vívian) e lá encontrei seus filhos. Normalmente, diante de uma criança, vem a vontade de fazer alguma festinha, reproduzir vozes estranhas, brincar de jogar pro alto, fazer cócegas, etc...e geralmente elas acabam gostando de alguma dessas bobagens, senão todas...rs. O que sempre passa desapercebido é o "efeito rebote", pois no final das contas quem precisa do estímulo sou eu. No fundo, percebo minhas reações e melancolicamente sinto uma vontade imensa de não ser quem sou.
Seu eu não fosse gente grande, atrairia pessoas com um simples sorriso. Seria capaz de ver graça nas coisas triviais, de me conter com pipa, linha e vento. Correria desengonçadamente e de olhos fechados, sem medo de cair.
Veria meus pais batendo as palmas das mãos, me chamando pra pular e, sem medo da queda, eu pularia...o problema é que sou adulto, pondero tudo, analiso as circunstâncias, meço a capacidade dos meus pais e, infelizmente, os subestimo. A mania de adulto me faz crer que os pais não têm a mesma força de antes. Em virtude de me ver neles e eles em mim, chego a infeliz e equivocada conclusão que há uma relação direta de proporcionalidade entre ser adulto e ser fraco.
Se eu não fosse adulto, não seria consumido pela ansiedade de realizar, pela neurose do ter ou pelo cansaço do querer sem poder. Sentaria no chão sem "modos", me apresentaria sem rótulos e não daria confiança ao que não interessa. Beijaria as menininhas com pureza, seria namoradinho de muitas sem perder a inocência. Viveria em função de dois chinelos para marcar as traves, de uma rua sem muito movimento de carros para ser meu campo oficial e de uma bola de futebol, pois para meninos, ter uma bola pra chutar significa exatamente "ter o mundo aos seus pés".
Sujaria as melhores roupas brincando, comeria uma maçã que acabou de cair no chão e lambuzaria a cara inteira chupando manga...tudo isso livre de constrangimentos. Não teria medo de me expor ou de parecer ridículo. Não teria receio de chorar na frente de quem fosse e, na mesma proporção, de rir imediatamente após.
Dentro de mim convivem os dois, homem e menino. Às vezes, como que num rompante de inexplicável felicidade, acorda o menino. Quase sempre, como que numa constante de realidade, não dorme o homem.
Ah Paizinho...me ensina a ser criança novamente. Me livra dessa mania horrível de querer ser grande.
OBS: Gosto de muitos "artistas" por aí, é bem verdade, mas poucos deles me inspiram como Felipe Valente. Não sei bem como se explica esse tipo de coisa, mas é como se houvesse um tom diferente em tudo o que ele faz. Como se as letras, as notas, o timbre, tudo transmitisse uma paz e alguma outra coisa diferente que o diferencia. Não foi nem uma ou duas vezes que ouvi uma música ou li um texto que gostei muito para depois descobrir que eram de autoria dele (é incrível como as minhas eleitas melhores de Leonardo Gonçalves são quase sempre assinadas por ele!).
Me controlo muito nesse aspecto. Não o conheço e sei muito pouco na sua vida para ousar admirar uma figura que idealizo. Ainda assim, seja lá por qual motivo for, leio um texto como esse - tão simples e tão íntimo a qualquer um que o leia - e reafirmo esse sentimento. A admiração por esse talento de traduzir sensações e transmiti-las dessa forma que tão poucos são capazes.
"Quero ser o teu amor amigo. Nem demais e nem de menos. Nem tão longe e nem tão perto. Na medida mais precisa que eu puder. Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida, da maneira mais discreta que eu souber. Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar. Sem forçar tua vontade. Sem falar, quando for hora de calar. E sem calar, quando for hora de falar. Nem ausente, nem presente por demais. Simplesmente, calmamente, ser-te paz. É bonito ser amor amigo, mas confesso é tão difícil aprender! E por isso eu te suplico paciência. Vou encher este teu rosto de lembranças, Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias..."
Fernando Pessoa
OBS: Porquê será que vejo um sentindo um tanto quanto mais autêntico no texto agora?! kkkkk'
Era pequena a flor que reluzia na cúpula de vidro. Separada das demais, era no fim das contas igual a todas as outras. De espécie simples, dessas cultivadas em qualquer jardim, era ainda mais mirrada e de aparência quase murcha. Ainda assim foi eleita para servir a um propósito: o de receber o anel dourado e assim honrar os que a cultivaram.
Eles eram um casal simpático, que tinham sempre um sorriso no rosto, e mundialmente conhecidos pelos jardins luxuosos que cultivavam. Haviam espécimes raras de rosas, lírios, orquídeas, das mais diversas cores, tamanhos e perfumes. De tão maravilhosas, enchiam os olhos de quem delas se aproximasse. Seus canteiros eram visitados por cientistas, botânicos e outros tantos curiosos. Ninguém em nenhum outro lugar do mundo conseguia produzir plantas tão vistosas, robustas e capazes de render frutos tão encorpados.
Porém, ainda antes que tudo isso se tornasse possível, o casal em começo de carreira cultivava no pequeno jardim de sua casa as primeiras flores de sua produção. Eram produzidas com todo cuidado e atenção e vendidas nas primeiras horas do dia na feirinha do bairro onde moravam. Haviam bons fregueses que admiravam suas rosas e petúnias, e aquilo já os enchia de orgulho. Chegou até eles então uma nobre senhora que, ao ver as flores trazidas por sua ajudante, se interessou em se associar ao casal. Botânica formada, ela vira neles uma chance de sucesso e resolveu financiar a produção, a ponto de que se tornasse de fato profissional. E os dois não poderiam esperar oportunidade melhor! Poder seguir a vida fazendo o que amavam fazer! E então fecharam o contrato.
Foi nesse momento que ela, a jovem jardineira, fez um pedido ao esposo. Queria que escolhessem dentre as sementes simples que ainda tinham uma que fosse plantada, tradada com carinho, e estivesse com eles durante toda a nova trajetória. E então o fizeram, procuraram uma semente que tivesse algum detalhe que a tornasse especial, que os lembrasse como tudo começou e de onde vieram. Mas não era das tarefas a mais simples... ainda que já tendo um conhecimento precioso sobre sementes, mesmo ao olhar mais atento elas pareceriam iguais. Enquanto vasculhavam, o jovem separava aleatoriamente algumas sementes que já não tinham mais valor.
Até que, ao descartar uma outra, sua esposa o interrompeu e recolheu a semente. Entendia-se porque deveria ser descartada era pequena demais, verde, e claramente não tinha se desenvolvido como as outras. Provavelmente, mesmo que plantada, não vingaria. Mas para ela não importava... seria aquela. E se não vingasse, tudo bem, não haveria outra flor.
E então plantou, com a melhor terra, com o melhor adubo, regando regularmente com todo o cuidado. Passaram-se alguns meses, eles se mudaram, construíram sua primeira estufa e encontraram novos e mais poderosos clientes. Os negócios iam bem, mesmo que aos poucos, mas a flor não brotava. Ainda assim a terra era constantemente revolvida e tratada. Passaram-se mais alguns meses e passaram a desenvolver outras espécies de plantas, os negócios alavancavam. Enquanto a flor selecionada ainda não revelava surpresas. Mas os cuidados permaneciam e já haviam virado rotina.
Foi durante uma viagem do casal, numa exposição fora da cidade, que o primeiro raminho floresceu. Frágil, delicado e tão pequeno que qualquer vento um pouco mais forte seria capaz de desfazê-lo. Quando enfim puderam ver que a florzinha enfim começava a nascer, celebraram de tal forma que resolveram enfeitá-la com um pequeno anel dourado, posto cuidadosamente ao redor daquele que seria seu caule.
O tempo passou, e a florzinha aos poucos se desenvolvia. Em meio a tantas outras flores magníficas, ela enfim ousou desabrochar, brotando somente uma flor, uma única vez. Tão fraca, com pétalas desbotadas e com pouca sustentação, que não parecia ser capaz de se suportar.
As pessoas não entendiam porque lhe era dada tanta importância Ao público que visitava as estufas do casal, que agora se estendiam a vários quilômetros nos campos ao redor de uma pequena mansão, ela era apresentada por último, como se fosse a criação mais especial de todas.
O curioso era que, desabrochando uma única vez, a flor que parecia tão frágil nunca se desfizera. O tempo a maltratava, era verdade. Suas pétalas estavam cortadas, em alguns pontos já haviam pedaços caídos, mas ela permanecia firme. Um casulo foi feito para protegê-la, e como que por mágica ela permaneceu em pé durante muitos anos.
Décadas se passaram, o jovem casal envelhecera e já não era capaz de cuidar tão bem dos seus suntuosos jardins. Foi quando decidiram entregar o negócio aos trabalhadores mais novos e voltaram a morar na antiga casinha onde tudo havia começado. Da mansão onde tão bem viveram, levaram somente algumas mudas de roupa e a frágil florzinha. Abriram as portas da velha casa e passaram a receber novas e frequentes visitas. Julgaram que para velhos sozinhos como eles não era bom e nem saudável se aprofundar na solidão. E todos os conheciam, tendo o carinho especial das crianças do bairro, que se divertiam com suas histórias e as lições de jardinagem.
Foi quando, num fim de tarde qualquer, caloso e tranquilo, viram as últimas luzes do dia refletir no cristal do casulo da flor. Seus olhos já cansados enxergavam muito pouco, mas um perfume suave começou a tomar conta do lugar. Notaram então o efeito da refração das luzes e o pequeno espetáculo de cores que formavam. Num breve clima de sonho, se renderam e cochilaram. E quando enfim o sol se pôs, e de repente despertaram, puderam notar o que havia mudado no local. A pequena florzinha não estava mais em seu lugar de origem. Provavelmente no momento de distração alguém a havia levado...
A senhora então se desesperou. Onde estaria sua florzinha?! Procuraram sem rumo pela casa; afinal onde poderia estar uma flor que mal tinha chances de ficar em pé fora do casulo? Passaram-se algumas horas até que notassem rastros de terra no tapete da cozinha, em direção ao jardim. O seguiram preocupados e sem esperança, procurando algum outro sinal. O jardim agora parecia ainda menor que antes. Muito menor diante da lembrança dos imensos hortos e estufas da mansão. Mas foi ali, num cantinho mais exposto do canteiro, que encontram a florzinha já plantada, sendo acalentada por uma das crianças da vizinhança.
Nervosos, os dois se aproximaram buscando alguma explicação. Aquela travessura lhes custaria a flor da qual cuidaram a vida inteira, a flor que simbolizava todos os anos de esforço e felicidade na profissão. Mas no menino traquino não havia nem sinal de preocupação ou arrependimento. Ele se divertia em revolver a terra, espalhando-a para todos os lados, e expressava até certo orgulho.
"Plantei a mudinha", ele dizia.
Ainda mudos, eles olharam confusos o cenário inesperado. Já era noite, mas na penumbra do jardim a pequena florzinha praticamente irradiava uma pálida luz própria. Se aproximaram mais e viram, pela primeira vez, algum sinal de viçosidade. Não ousaram tocá-la, mas a senhora sentiu que alguma coisa faltava.
"O anel" questionou ao menino "Onde está o anel que a enfeitava?"
O garoto então retirou do bolso o enfeite ainda sujo de terra"Desculpa... é que parecia que apertava"
Receberam de volta o pequeno elo dourado e levaram o menino para dentro da casa, estava ficando tarde e sua mãe logo se preocuparia com sua ausência. Ele se foi com alguns biscoitos nas mãos e a promessa de que poderia voltar no dia seguinte.
Então o casal voltou novamente para o jardim, com a dor na consciência de que a florzinha provavelmente não teria resistido ao sereno. A senhora, já chorosa, lamentava que tantos anos de cuidado tivessem tal fim. Qual não foi a surpresa ao notarem que, apesar dos ventos que a balançavam, a florzinha permanecia forte. Como girassol que gira de acordo com a posição da luz, ela se erguera como se algo, de repente, a sustentasse. Não conseguiam entender. Apesar do impulso de pensar que seria melhor removê-la da forma mais delicada possível e devolvê-la ao casulo, não conseguiram reagir. De tão perplexos, sentaram-se ao redor do canteiro e horas depois adormeceram. Acordaram com o amanhecer e os raios de sol lhe cegaram os olhos. De repente a preocupação do quanto isso afetaria as frágeis folhas e pétalas da florzinha. Mas ela permanecia, inabalável, e ainda mais firme.
O dia passou, e com a volta do garoto, que teimava em continuar revolvendo a terra em volta da flor, notaram que em poucas horas haviam brotado raízes. Ao fim do dia, outro pequeno botão começava a aflorar no novo ramo que surgira. Era, ao mesmo tempo, espantosa e maravilhosa a forma como agora se desenvolvia. E o casal, que tantos anos se aprimoraram no cultivo de flores como aquela, ficou cada vez mais intrigado. Afinal, porque ela nunca cresceu dessa forma antes?!
Não haviam explicações. Seria a terra do jardim que favorecia o crescimento? Mas ela fora plantada quando ainda moravam na velha casa, e foi aquela mesma terra que havia sido utilizada em seu procedimento. Seriam as mãos do garotinho?! Pouco possível... o motivo de ele estar tão orgulhoso sobre o crescimento da florzinha foi justamente o fato de que nunca antes havia conseguido fazer brotar alguma coisa. Nem mesmo as sementinhas de feijão usadas nas experiencias com as outras crianças.
Foi quando tocaram a flor pela primeira vez em busca da resposta, que enfim a encontraram. Já havia passado certo tempo, ela se revelara a flor mais linda que jamais imaginariam que pudesse ser. Mas ao revistar seu caule, agora forte e grosso, notaram que havia um ponto onde ele se afinava, se contorcia. Como se fosse o único ponto seco e sem vida da flor, todas as novas flores floresceram a partir dos novos ramos que brotaram, mas aquele ponto permanecia intacto.
Então entenderam. Era aquele o lugar onde antes ficava o anel dourado que julgavam abrilhantar e honrar a flor eleita. Mesmo com a intenção de a diferenciar das demais, foi aquele ato que impediu que a plantinha se desenvolvesse como deveria. E ao se depararem com a verdade, quão mais a admiraram por mesmo que com seu caule amordaçado crescer e florescer com a pouquíssima força que lhe restava. E por tantos anos se sustentara assim, como se soubesse que um dia enfim poderia gerar outros ramos e mostrar seu verdadeiro potencial.
E mesmo que agora fosse merecedora das honrarias que as outras flores premiadas do casal receberam, eles a mantiveram ali, no velho canteiro. Suas mudas, que eventualmente podiam ser extraídas, foram distribuídas entre as crianças do bairro, e em alguns meses cada casa tinha em seu jardim uma amostra da flor que representava a vida dos dois. Graças a elas, eles se eternizaram, e permaneceram vivos mesmo depois de sua morte. OBS: não pensei que fosse conseguir chegar ao fim disso aqui kkkkkk' Mas preciso ficar feliz em saber que acabou exatamente com a moral que eu queria transmitir quando pensei nessa história. Porque ela mudou totalmente ao longo do curso... mas no fim ainda retratou essa vida de estar abrilhantada sob expectativas até poder florescer ao estar liberta delas. Comigo foi assim, e eu sei que com um bucado de gente também... espero que se enxerguem! :)
Não estamos falando sobre minha dificuldade em lembrar de certos detalhes, como "onde foi parar minha chave?" ou "qual o trabalho da semana que vem?!".
Também não estamos falando sobre os pensamentos de Freud (que aquela música de Los Hermanos me faz lembrar) sobre o trabalho do inconsciente em fazer você esquecer aquilo que você na verdade não quer recordar... ou talvez seja.
Vivemos e vemos, praticamente todos os dias, acontecimentos que mexem conosco, enternecem o nosso coração. Nos abalam, nos colocam em profunda reflexão sobre as questões da vida, o universo e tudo mais, mas passados os primeiros instantes, o hábito vem e apaga. Como coisa escrita na areia que se desfaz devagarinho enquanto a maré sobre.
Centenas de jovens morrem num acidente horrível. Paramos para chorar e pensar em como a vida é passageira. Dois meses depois... onde foi mesmo que tudo aconteceu?
Milhares de pessoas são mortas numa guerra sem sentido. Meu Deus, porquê tantas guerras?! O objetivo final quase nunca interessa a quem dá a vida em nome dele. Não há como concordar com isso. Anos depois... de qual guerra você está falando?
Uma jovem se suicidou aqui perto de casa. Ela era tão linda, feliz! E o motivo me pareceu tão banal. Mas eu sequer a conhecia, então...
Não estamos falando sobre mim ou sobre você. Estamos falando da maldita mania de fazer com fatos marcantes, que poderiam - e deveriam - mudar o rumo das nossas histórias, sejam levados na correnteza do tempo da mesma forma que qualquer outro acontecimento banal.
Talvez sob essa ótica Heráclito não esteja tão certo... o tempo passa, mas nós (e o "rio") não mudamos.
Existe sempre alguma coisa latente, nata, que nos matem exatamente da forma forma que éramos a séculos atrás. A sociedade muda, a modernidade aflora, assola, reformula, mas no fundo continuamos os mesmos.
E todos os fatores que poderiam quebrar esse ciclo são simplesmente anulados, como se viver por egoísmo fosse qualidade necessária para o instinto de sobrevivencia.
Olhe para trás, reveja a história.
Seja lá quem lutou para reformular o sistema, sempre foi amordaçado, violado, até que sua voz fosse completamente abafada. Tudo isso pela elite opressora?! Sim, com certeza. Mas principalmente pela massa que enxerga na mesmice a melhor opção. Em que situação é preciso estar para que a mediocridade seja vista como um porto seguro feliz?
E justamente isso não muda.
É estranho, não é?!
É preferível a falta de esperança, a falta de fé, a crença no nada em vez de um direcionamento a algo que se transfigure em puro e infindável amor. Amor... é conto da carochinha. E qualquer coisa que remeta a ele também é.
Desculpa, mas eu tenho medo. E desse medo eu não consigo esquecer.
Ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, para cada vilão há um herói, para cada egoísta, há um líder dedicado.
Ensine-o, por favor, que para cada inimigo haverá também um amigo, ensine-o que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada.
Ensine-o a perder, mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso.
Faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros no céu, as flores no campo, os montes e os vales.
Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos.
Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram.
Ensine-o a ouvir todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho. Ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram.
Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.
Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço. Deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.
Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.
Eu sei que estou a pedir muito, mas veja o que pode fazer, caro professor."
OBS: É uma bela carta. Mas, só pra questionar, não é exatamente isso o que um pai - e não um professor - tem que transmitir ao seu filho?! E quem lá sou eu pra questionar Abraham Licoln, não é?! -.-'
Matando o tempo afim de rabiscar
todo o azul do céu
E a porta aberta trás o vento do quintal...
Soprando faz lembrar minha condição
Percebo que sou tão frágil... frágil como folhas de outono
Tão frágil... frágil como quem não tem dono
Eu deixo a luz do quarto se apagar pra deitar no chão
Pedindo pra teu lápis desenhar meu papel de pão
É fácil descansar nessa condição...
Pra logo despertar vendo as folhas pelo chão
Me lembro que sou
Tão frágil... frágil como folhas de outono
Tão frágil... frágil como quem não tem dono
E esse vento que soprou me fez perceber que não estou tão solto assim.
OBS: É assim. Essa música trás uma paz pra gente... tão simples, mas tão assim... kk' Por essas e outras que amo Felipe Valente. Ele sabe traduzir essa gratidão que mal dá pra explicar. :)
Foi em casa que eu aprendi a teoria da sobreposição do amor.
Observando meus pais e descobrindo aos poucos todos os defeitos tão latentes deles, e em meio a tudo isso descobrir que existe muito mais a descobrir - sobre eles e sobre tudo.
Depois me disseram que isso era "ver o lado bom das coisas", mas eu sempre convivi com isso de um jeito tão natural que simplesmente me é estranho ver alguém ser pessimista ao ponto de se negar a enxergar.
Não é que a vida seja perfeita... nunca foi. E é claro que todos temos nossos momentos de ponto cego.
E já passamos cada perrengue... preconceitos, contradições, falsas impressões, julgamentos, falta de dinheiro (quando nunca?!) e falta de amigos.
Talvez fosse a pior das situações. Achar que se podia contar com alguém e no fim perceber que estava enganado. Gostaria muito de dizer que isso só aconteceu uma ou duas vezes...
Mas mesmo quando a coisa apertava, o bicho pegava, e a gente não via mais pra onde correr, nosso maior alento era justamente em ver que estávamos juntos, apesar de tudo.
É fácil. Só jogar amor por cima.
Foi esse amor incondicional que nos trouxe até aqui e que nos manteve de pé.
E lá no fundo facilitou muito as nossas vidas... porque quando um ficava estressado demais, ou falando demais, os outros fechavam os olhos e se lembravam que aquilo iria passar, que era importante suportar.
Quando algum dos três se revoltava e queria desistir, era outro que segurava a rédea e seguia em frente.
Quando algum desafio novo acontecia, os três sentavam e organizavam o plano tático para passar por mais aquela do jeito que tinha que ser: juntos.
E mesmo quando minha mãe fica atacada (acontece com frequência 'kkkk);
E mesmo quando meu pai resolve jogar tudo pra cima e deixar pra lá;
E mesmo quando eu tenho minhas crises de mal humor insuportáveis,
enxergamos o amor construído ao longo desses 20 e poucos anos e conseguimos sorrir.
Não quero que fique parecendo que é tão fácil... não é. Mas encarar isso já se tornou habitual, como deve ser.
Nossa pequena grande família é tudo o que eu quero ser e ter, mesmo quando ela vier a crescer mais um pouquinho.