terça-feira, 1 de maio de 2012

Motor Imóvel.


          Um dia ela acordou - duas vezes.  Enquanto abria os olhos e esperava eles se habituarem com a claridade, uma nova luz começou a brilhar dentro dela mesma. De repente, de uma só vez, toda a certeza sobre uma velha verdade tomou conta da sua mente e do seu coração. De uma só vez ela se deu conta de que sempre soube, mas que nunca havia tomado consciência da importância daquela descoberta. Ela era dona do seu mundo.
              Seja de onde tenha vindo aquele poder, enfim ele era seu. E não importava os que pensavam, ou diziam, ou as conclusões que a forçavam a ter... acima de tudo aquilo, ainda havia o que ela quisesse ser. No fim das contas, quando o assunto era si mesma, era sempre a sua vontade. Levantou-se da cama, e enquanto escovava os dentes pensou se ela realmente era o que queria. Não demorou muito para concluir. Não era. Tantas coisas fazia só mesmo porque era o que os outros queriam, sugeriam, sonhavam... Não que não fosse feliz, mas tantas as coisas deixou de fazer - e até mesmo sonhar - por se prender ao que diziam. E tudo porque? Afinal, quem sofria as consequências? Valeu a pena até agora?
              Valeu?
              Talvez ela sequer pudesse ter tido a chance de...
            O primeiro gole de café enquanto olhava o relógio. Estava atrasada. E quem tinha marcado o horário afinal? As vezes tudo ficava tão chato. Se ela pudesse... a buzina do carro reafirmava o atraso. Um pouco mais de correria e lá estava ela, fora de casa. E no que pensava mesmo? Algum sonho bom, com certeza. Pena que nunca se lembra deles.

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