Não subestime a minha história.
Apesar de não ver mais em mim a humilhação, a miséria e a fome, saiba que as vivi (e vi) como marcas e como vida.
Já vesti todos os falsos sorrisos e trajei todas as pesadas máscaras.
Experimentei de todas as mais bonitas, encantadoras...
as que por dentro cravavam espinhos profundos.
E ainda menina, aprendi a sorrir enquanto tinha vontade de chorar.
Mas também aprendi a olhar os pontos positivos.
A engolir a seco os desaforos, filtrar as críticas e limitar as emoções.
Limitar ou fingi-las, de acordo com o que fosse necessário.
Enquanto me esforcei para agradar todos os olhares, fui apontada pelos que se julgavam capazes.
Deboche. Desdem. Vergonha.
Só não me era permitido abaixar o rosto.
Permaneci intacta, muda e intocável.
As pressões já haviam se tornado relativas a muito tempo.
Aquele ser inanimado e perfeito deveria ser eu.
E no fim consegui toda a satisfação alheia que importava. Muito bem.
Já devia poder ser feliz... mas não.
Haviam marcas, havia escuridão, havia vácuo.
Porque depois de toda a rigidez, senti vontade de sentir alguma vez... vontade de ser eu.
E de repente, como numa explosão, a última crítica não atingiu o alvo correto.
Aquela que deveria suportar e sorrir, cerrou os pulsos e gritou.
Não foi um grito de independencia, e sim de dor.
Me afundei no poço que minha alma se tornara, justamente quando achava que não precisaria mais fingir ou sofrer.
E toda a miséria por qual já tinha passado não era nada diante daquilo...
Perdi o chão. Não encontrava a razão e nem mesmo o falso riso.
E ainda assim, me escondi. Não precisava quebrar a imagem perfeitamente emoldurada que havia construido durante tantos anos.
Mas as rachaduras já estavam expostas.
O tempo passou, e eu me quebrei.
Da surdez o silencio, e o meu mundo caiu.
Não me subestime.
Do passado tão próximo ainda existe o talento de ser assim, como insiste em me ver.
Ainda estou recuperando os cacos, ainda cortando e remendando as feridas.
Mas agora floresce a convicção.
Já possuo o poder de ser eu mesma, mesmo que seja somente um terço de todo ele.
Aqui já existe um coração que fala, sente e grita.
Então me deixe sentir, me deixe viver.
Porque os materiais mais frágeis também são os que se transformam mais facilmente.
[Autor que prefere ser Desconhecido]
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
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Fadinha de Algodão
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