sábado, 8 de setembro de 2012

[Malditas] Reações Químicas Irracionais



          - Tenta se conformar, cara! Isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, e você sabe disso...
          - Não é assim tão simples    - ele parecia cada vez mais nervoso    - Não posso aceitar tão normalmente que meu lado puramente orgânico e inconsciente tenha tamanha soberania. Não... minha consciência merece algum predomínio! É sempre ela que padece!
          - Padece? Como assim...    - o amigo estava perdendo a paciência    - Velho, você gosta dela. Só isso! Ela é linda, inteligente, educada... é perfeitamente natural.
          - Me agradaria se enfatizasse menos os adjetivos dela.
          - Ok, desculpa. Só estou querendo dizer que...
          - Tudo é absolutamente comprovável. Estive lembrando da primeira vez que a vi, e pensando bem acho que logo de inicio sofri todos os sintomas. Senti os feromonios sendo aplicados ferozmente no meu sistema sanguineo. E foram eles, somente eles, os causadores dessa minha tortura.
          -  Fero... fero o quê?!
          - Feromônios! Os demônios causadores dessas sensações inexplicáveis... suor descontrolado, boca seca, nervosismo, borboletas no estômago...
          - Han... claro.
          - Então, como fui incapaz de prever o que poderia acontecer, meu cérebro apronta mais uma, da forma mais covarde!
          - Lá vem!
          - Isso é sério, cara! Depois de alguns dias eu já não dormia, mal conseguia trabalhar e... Droga, aquele sorriso bobo que não me saia do rosto! Ela não me saía da cabeça! E tudo porque?! Fui obrigado a aceitar a maldita ação da feniletilamina! E ela é cruel, age rápido e sem deixar vestígios! Se joga em quantidades absurdas no sangue e chega ao cérebro com tanta pressão que sequer consegue ser processada. Ainda assim, tão rápida quanto chega, se torna um vício. Eu já não me imagino sem essa menina, e não consigo imaginar qualquer outra coisa que não esteja relacionada a ela... é uma dependência!
          - Han...
          - E como se já não fosse suficiente, me sujeito à oxitocina e à vasopressina! A primeira fez com que minha perturbação interna não se satisfizesse com a particularidade. Passei a não ter mais nenhum assunto com os outros que não fosse ela. A segunda...    - uma leve pausa para um suspiro profundo    - essa mania de querer sempre ela por perto, e de encher de carinhos e de todos os mimos idiotas que nunca sequer pensei em fazer pra alguma garota.
 Se passaram alguns minutos de silencio antes que o amigo (assustado) voltasse a tomar iniciativa no diálogo.
          - Acabou?
          - Não... Infelizmente não. Do que me adianta ter consciência de tudo isso e continuar parecendo um idiota?
          - Você gosta mesmo dela...
          - Não importa... não fui capaz de causar a mesma liberação de hormônios nela.
          - E como pode ter tanta certeza?
          - Porque foi outro cara que conseguiu – e abaixou a cabeça, perturbado.
          - Ah... – não esperava por aquilo - que pena. Eu nunca te vi assim por mais ninguém...
          - E nunca mais verá! – e por instantes pareceu adquirir um ar de presunção    - Dedicarei minha vida acadêmica a descobrir um inibidor para essas ações absurdas!
          - Cara, não vai adiantar de nada!
A esse ponto já começava a ser difícil conter alguma risada.
          - Sabe a pior parte?
          - Qual?
          - Ainda não encontrei uma explicação aceitável para essa dor...
          - Não dá pra ser tão racional assim, velho.
          - Talvez não.

[...]
 

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