- Tenta se conformar, cara! Isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, e você sabe disso...
- Não é assim tão simples - ele parecia cada vez mais nervoso - Não posso aceitar tão normalmente que meu lado puramente orgânico e inconsciente tenha tamanha soberania. Não... minha consciência merece algum predomínio! É sempre ela que padece!
- Padece? Como assim... - o amigo estava perdendo a paciência - Velho, você gosta dela. Só isso! Ela é linda, inteligente, educada... é perfeitamente natural.
- Me agradaria se enfatizasse menos os adjetivos dela.
- Ok, desculpa. Só estou querendo dizer que...
- Tudo é absolutamente comprovável. Estive lembrando da primeira vez que a vi, e pensando bem acho que logo de inicio sofri todos os sintomas. Senti os feromonios sendo aplicados ferozmente no meu sistema sanguineo. E foram eles, somente eles, os causadores dessa minha tortura.
- Fero... fero o quê?!
- Feromônios! Os demônios causadores dessas sensações inexplicáveis... suor descontrolado, boca seca, nervosismo, borboletas no estômago...
- Han... claro.
- Então, como fui incapaz de prever o que poderia acontecer, meu cérebro apronta mais uma, da forma mais covarde!
- Lá vem!
- Isso é sério, cara! Depois de alguns dias eu já não dormia, mal conseguia trabalhar e... Droga, aquele sorriso bobo que não me saia do rosto! Ela não me saía da cabeça! E tudo porque?! Fui obrigado a aceitar a maldita ação da feniletilamina! E ela é cruel, age rápido e sem deixar vestígios! Se joga em quantidades absurdas no sangue e chega ao cérebro com tanta pressão que sequer consegue ser processada. Ainda assim, tão rápida quanto chega, se torna um vício. Eu já não me imagino sem essa menina, e não consigo imaginar qualquer outra coisa que não esteja relacionada a ela... é uma dependência!
- Han...
- E como se já não fosse suficiente, me sujeito à oxitocina e à vasopressina! A primeira fez com que minha perturbação interna não se satisfizesse com a particularidade. Passei a não ter mais nenhum assunto com os outros que não fosse ela. A segunda... - uma leve pausa para um suspiro profundo - essa mania de querer sempre ela por perto, e de encher de carinhos e de todos os mimos idiotas que nunca sequer pensei em fazer pra alguma garota.
Se passaram alguns minutos de silencio antes que o amigo (assustado) voltasse a tomar iniciativa no diálogo.
- Acabou?
- Não... Infelizmente não. Do que me adianta ter consciência de tudo isso e continuar parecendo um idiota?
- Você gosta mesmo dela...
- Não importa... não fui capaz de causar a mesma liberação de hormônios nela.
- E como pode ter tanta certeza?
- Porque foi outro cara que conseguiu – e abaixou a cabeça, perturbado.
- Ah... – não esperava por aquilo - que pena. Eu nunca te vi assim por mais ninguém...
- E nunca mais verá! – e por instantes pareceu adquirir um ar de presunção - Dedicarei minha vida acadêmica a descobrir um inibidor para essas ações absurdas!
- Cara, não vai adiantar de nada!
A esse ponto já começava a ser difícil conter alguma risada.
- Sabe a pior parte?
- Qual?
- Ainda não encontrei uma explicação aceitável para essa dor...
- Não dá pra ser tão racional assim, velho.
- Talvez não.
[...]
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