Porque o mundo não cabe no mundo, meu senhor.
O seu 'tudo' é na verdade bem pequeno, frágil e temporal.
Se vem vendaval, leva. Se vem alguém mais poderoso, desfaz. Se vem o tempo, esquece.
Pois seu 'tudo' é muito pouco.
Eu aqui tenho, na verdade, bem pouquinho. Pouquinho até mesmo pro senhor.
Mas o meu pouquinho preenche todo o espaço vazio que eu tenho aqui por dentro.
E não vá pensando que é vazio pequeno, não senhor. É vazio dos grandes.
Mas o meu pouquinho é volumoso, encorpado. Ajeitando um cado até dá apertado.
Porque eu tenho bons olhos, meu senhor. Vejo do jeito certo.
Dou aos meus amores seu devido espaço, e deixo todo o resto recheado do amor que vem dos outros.
Pode parecer pouca coisa, meu senhor, eu sei. Mas é disso que eu sobrevivo até hoje.
(E vivo muito bem, obrigado)
Os amores são assim, desajeitados, meio tortos, meio tontos, mas são amores bem legítimos.
Legítimos ao ponto de me darem o sentido que eu preciso pra correr atrás do resto.
E se ainda assim não convence, talvez se reparar no amor que me dá todos os outros me faça parecer mais qualificado.
Afinal, de "tudo" eu não entendo quase nada.
Mas eu acho que o senhor também não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário