segunda-feira, 19 de março de 2012

Outra História [2]



[Continuação] 

Ela era uma caloura, absolutamente ansiosa. Mal sabia como havia passado no vestibular e não tinha a mínima ideia se aquele curso era o que realmente queria - mas estava ali. Por pressão dos pais, familiares, amigos ou do universo, quem quer que fosse, enfim estava ali. Carregava o caderno na mão com pouca convicção, enquanto observava todos os outros que passavam sem nota-la. Deu um suspiro aliviado e seguiu em frente. Não ser notada era justamente o que precisava. Ao encontrar sua sala, sentou-se numa das primeiras carteiras e aguardou. Os colegas, o professor, o inicio da primeira aula, o fim. Tudo tão rápido e tão demorado. No meio tempo entre isso tudo, sorriu, conversou com algumas pessoas próximas e sorriu mais uma vez. Enquanto ia para casa pensou que não seria tão diferente assim. Seguiu.
No dia seguinte se permitiu passar uns minutos na cantina. Era um bom lugar aquele, numa uma boa faculdade e ainda tinha boas previsões para o futuro (aquelas absolutamente incertas, mas que acontecem dentro da gente). De repente, olhou para o lado e notou que alguém a olhava. Poderia haver momento mais tenso que aquele? Ok, talvez ele não se aproximasse. Engraçado, mas não sentia medo. Só não queria ter que dispensar um cara. E como isso acontecia com mais frequência atualmente. Alguns anos atrás, no ensino médio, não atrairia olhares dos rapazes da escola a menos que resolvesse aderir à moda da melancia na cabeça. Talvez tivesse se acostumado a isso, não se sabe. Sabe-se apenas que com os anos passou a receber mais cantadas e a chamar mais atenção dos outros. Não que ela tivesse se esforçado em mudar alguma coisa. Mas enfim, aconteceu.
O rapaz se levantou e seguiu em direção a ela, como temia. Começou a ficar nervosa. Ele era bonito, ok, mas era apenas seu segundo dia de aula. Não houve tempo nem para uma habituação ao espaço, ou alguma coisa do tipo. Ela coçou a cabeça nervosamente e se virou de lado. Ele continuou vindo até que... passou direto. Parou para conversar com outra garota encostada no balcão. “Ótimo!” pensou. Levantou-se e tratou de ir o mais rapidamente possível para sala. Ainda não era boa ideia circular por ai sozinha.
Ao fim das aulas do segundo dia Teresa já tinha feito maiores avanços nos relacionamentos com seus colegas e durante o resto da semana conseguiu chegar ao ponto de ter com quem inspecionar o espaço. Mal se lembrava do garoto da cantina (então por que essa questão de ressaltar o fato?) e estava começando a ficar contente com o curso que as coisas estavam tomando. Melhor do que o esperado, satisfatoriamente. 
Então, na terceira ou quarta semana – ninguém se lembra ao certo – enquanto lia um livro que fora solicitado na aula da semana anterior, sentada num dos bancos espalhados pelo pátio, um rapaz se aproximou e sentou-se ao lado sem falar nada. Teresa olhou rapidamente enquanto dizia “boa noite” quase que por reflexo. 
- Oi, boa noite! - respondeu ele. Ele, o cara da cantina - Caloura da turma no terceiro corredor, certo?
Ela demorou um pouco para responder, mas sorriu (por educação) 
- Acho que sim...
- Prazer, Elton! – e estendeu a mão.
- Ah, meu nome... Teresa – era estranho conversar com aquele cara, mas apertou a mão dele educadamente. Sempre por educação.
- Tenho te visto por esses dias... Não, não ache estranho. Conheço boa parte dessa faculdade. E olhe que não tenho nem um ano de casa!
“Isso é uma piada?” pensou Teresa. Ela riu, de qualquer forma.
- Bom, não saio muito da sala, eu acho.
- É, coisas de calouro! Isso acaba mudando com o tempo... mas o que faz aqui sozinha?
“Não é possível que ele não tenha visto o livro...” pensou novamente. Ah, se o cara soubesse as ótimas respostas que ela tinha em mente para acabar logo com aquilo.
- Estudando – então resolveu ser um pouco mais sincera, por educação talvez - Ou tentando. As terminologias ainda são difíceis, mas acho que estou conseguindo aos poucos.
- Hum... – disse Elton enquanto analisava a capa do livro – É um bom autor, mas acho que você iria preferir um outro que usei no começo do curso... é mais prático. Afinal, é só o começo, ainda dá pra deixar a parte chata para depois.
- Obrigada, mas foi referencia do professor e...
- Você vai aprender a não ouvir tanto os professores – interrompeu enquanto procurava alguma coisa na mochila – Achei! Com licença.
Pegou uma caneta e anotou no caderno de Teresa nome e autor do livro que tinha dito antes – Tem na biblioteca, pode conferir. Então sorriu ("hum, sorriso bonito...") como que se despedindo sem muitas palavras, levantou-se e saiu acenando com uma das mãos.
- Ah, ok... – definitivamente ele não era normal.

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