domingo, 18 de novembro de 2012

Desabafo Frustrante.


Tudo o que eu sei, tudo o que eu sempre soube, é que eles eram merecedores de todo e qualquer esforço da minha parte. Por serem tão incríveis e reconhecidos. Por serem mesmo especiais. Por serem os meus pais. E não é bajulação ou coisa do tipo... várias pessoas em vários lugares do país reconhecem e comprovam esse fato e, sendo assim, é lógica absolutamente comprovada. Tenho muito orgulho deles e me sinto honrada por tê-los assim tão maravilhosamente presentes em minha vida. E por isso, e muito mais, não posso medir esforços para corresponder ao que eles são. Não que me cobrem, ou exijam alguma coisa... mas é sinceramente o mínimo que posso fazer.
Não tenho nenhum talento especial. Não sou tão divertida, nem tão inteligente e nem tão esperta. Não sou boa com as palavras, nem com crianças e nunca tive muito jeito pra lidar com gente. Gosto de desenhar, e ainda assim por impulso próprio, sem um motivo especial. Não gosto de me arrumar, nem de sorrir o tempo todo. Não gosto de bajular ninguém, nem de me desmanchar em elogios. Gosto da calça folgada, dos livros e do meu all star. Gosto de "barulho" lento. Gosto de ficar sozinha. E só.
Mas isso não basta. Porque não se pode viver assim. Não quando tenho dois referenciais tão incríveis ao meu lado. As pessoas notam. Elas pensam "a filha deles deve ser realmente incrível!", e esperam que eu seja, me conhecendo bem ou não. Esperam um sorriso cheio, talentos desenvolvidos e comportamento aceitável. Esperam suporte, apoio e liderança. Que eu tome a frente, a culpa e a coragem. Que eu faça tudo o que as pessoas normalmente não conseguem fazer com perfeição, como sofrer calada e obedecer sem objeção. Esperam que eu defenda as boas causas e NUNCA cometa aqueles erros óbvios que elas próprias cometem. Afinal... não sou normal. Nem posso ser.

E eu...
Particularmente nunca esperei fazer tudo isso. Mas sou quieta, tenho preguiça de me defender e prefiro o silencio. Ao ficar passiva ao que eu própria quis, vi (sem querer) meus pais felizes por eu ter me tornado aparentemente perfeita. E então já não havia escolha... na falta do que ser, seria o que o outros esperavam, desde que isso os tornassem felizes ou, pelo menos, faciliasse o caminho deles.
Funcionou muito bem, confesso.
Do dia da consciência em diante, fui ponto positivo no resto da trajetória. Apesar de não ajudar muito no trabalho pesado, pelo menos era muito útil nas aparências. Cresci conformada com as minhas obrigações e me mantive assim durante bastante tempo... tempo suficiente para passar a desconhecer como é ser ou sentir ser eu mesma... esqueci como é pensar em mim, e somente em mim. 
Engraçado. As qualidades as quais disse que não tinha agora parecem muito características... qualquer um que me conheça a pouco tempo acredita que sou assim. E eu não sei se não sou. Me moldei às vontades alheias e já não sou capaz de pensar sozinha. Não sou capaz de enfrentar as consequências sozinha. Não sou capaz de viver por mim mesma.
Não é dependência. É simplesmente viver pelos outros muito mais que por mim mesma.
Minhas decisões, erradas ou não, podem e vão escandalizar todos os que me cercam e vão afetá-los muito mais que a mim. E alguém tem noção do que é isso?! Viver, pensar e agir, conforme o que os outros esperam, para fazer todos eles felizes, por que não importa a minha situação, eu devo ser feliz quando os outros também o são.
Parece generosidade... mas é tão frustrante!

E ainda assim... eu sei que vou continuar me rendendo.

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