terça-feira, 2 de outubro de 2012

"Apenas" palavras.

 
 Não há muito o que falar... mas desta vez sou eu mesma quem digo, sem fantasias ou disfarces.
Mais uma vez, aqui, falo de mim pra mim.
Porque já não posso me esconder da verdade que se mostrou como tal: tenho poder em minhas palavras.
Elas que se disfarçam de simplicidade e acaso, mas são capazes de dominar o mundo.
E quanto a isso não invoco algum misticismo ou surrealidade. Já foram registradas - em tantos textos, em minhas memórias e em meu coração - todas as provas necessárias.
As palavras tem poder imprecatório. Assinam os termos mais sérios de responsabilidade, aqueles em que o compromisso firmado vai além das plenas convenções burocráticas, aqueles em que a convicção vem da própria consciencia. Ao se dar a voz à dor, ao sentimento, ao canto, ao desespero, ele se expõe e pulsa como ferida inerte.
E ao mesmo tempo que vibra, se consolida. Ao mesmo tempo que jorra, se torna real.
 
 Através delas construiram a história.
Guerras foram declaradas, insinuações feitas e planos destruidos.
Delas se extrairam a única chance de paz. Delas se fez o grupo, a sociedade e a nação.
 
E pensar que reprimí-las traria algum efeito é mera ilusão.
Se os pensamentos regem nossas ações, é a partir dos mesmos que elas afloram.
 
Me lembro das malditas palavras impensadas que me tiraram a chance do que acabei por desejar naquele futuro próximo.
Lembro das palavras que me recusei a dizer, e as que, mesmo dizendo, me feriram tanto por dentro.
Lembro das lágrimas que muitas delas traduziram. Lembro do sussuro, e da dor.
 
E ainda assim me lembro do sorriso. Das bobagens e desafinos, que me trouxeram os bons e eternos momentos passageiros.
Lembro das frases sérias, cheias de sentido, que expressaram todo o meu amor. O suficiente para sequer houvesse a necessidade de se repetissem.
Lembro das poesias que entoei apenas entre olhares.
Das decisões tomadas e das retificações feitas.
Da escolha que revirou o meu rumo, e me deu um novo sentido.
A palavra que me retornou ao alvo.
 
E desde antes de mim, quando ainda nada havia. Houve uma voz, uma palavra e assim se fez.
E dentre todas as palavras que formaram o mundo e transformaram vidas, eis que estou hoje aqui.
Me achando digna de dizê-las, sem o mínimo pudor ou cuidado.

Palavras.
 
E quem ainda penso ser para ousar dissipá-las?
Responsável pelo que sou, mas principalmente pelo que digo (ou não).
E será que há sabedoria suficiente para isso?

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