segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Bruta Flor, Maria [2]

               Menininha da cabeça dura e da perna bamba, era Maria que passeava no quintal de frente pra janela. "Quintal de verdade é esse" dizia a Dinda todo o fim de tarde, quando inventava uma visita pra comer mais um pedacinho do bolo de fubá que D. Luzia fazia. Mamãe de Maria era mestra em fazer duas medidas de açúcar e farinha virarem comida de comer ajoelhado.
               Não havia conceito de pobreza que traduzisse a cena que se via. Apesar da comida pouca e da dispensa vazia, todo mundo era rico no coração e na fantasia. O trabalho no roçado trazia uns bons trocados, e nem precisava gastar comprando ovo ou leite, porque os bichinhos da casa já os serviam com primazia. E no fim das contas era divertido comer hoje sem saber o que teria pro outro dia. Apesar de mamãe não acreditar no que ouvia, papai sempre abria um sorriso e todo encolhido dizia "está lançado o desafio, Maria!". Quem acertasse ganhava dois pedaços de rapadura fresquinha e um bucadinho de farinha extra      prêmio melhor não havia!
               A casa era pequenininha, coberta de taipa e recheada de aconchego. Também não havia necessidade de muito. Durmiam nela só mamãe, papai e Maria. Mas a uns tempos atrás ainda vivia o Manuca,  o bebê mais novo e com as bochechas da cor de terra queimada. Era uma belezura! Tinha os olhinhos mais doces que a menina já vira. Mas Manuca ficou doente, teve de ir pra Capital. Mas Capital é lugar grande demais, muito complicado. O pequeno Manuel se já não era grande, praticamente sumira no meio de tanto "fuzuê" de hospital lotado. Mamãe não fala muito no assunto, por causa do cisco que vive rondando o olho dela, mas Maria sabe que Manuca acabou sendo enterrado no quintal por conta disso.
               De manhã cedinho, quando o sol fingia que dormia, acordava todo mundo - inclusive Maria - e partia com a vizinhança pro roçado grande. Era povo trabalhador, do braço forte, com o almoço debaixo do braço e enxada na mão. Maria ia de graça, porque sozinha em casa não podia ficar. Mas ela gostava do furdunço e da agonia, e vivia animada em querer ajudar. Ainda assim só no querer ficava. Suas mãozinhas pequenas e bracinhos finos eram de muita pouca valia. Para pegar no batente e preparar a terra ela não servia. Muito menos espalhar o adubo, quando ficava mais esterco na roupa do que no chão do roçado, o que a mamãe enlouquecia. Espalhar as sementes ou distribuir as mudas seria uma boa saída... se não fosse justamente a habilidade de papai, o famoso dedo verde do roçado. Talvez fosse herdado por Maria, mas até quando fosse necessário realmente não saberia.
               Mas se havia uma coisa a qual a menina sabia, era arrancar erva daninha bixada. Apesar da pouca forma, tinha pegado o jeito. Um estralinho pra cá, três voltinhas de levinho, e arrancava toda a raiz sem deixar na terra um só pedacinho! E era serviço importante, esse de Maria. Afinal plantar e regar não tinha importancia se a plantação tão bem cuidada fosse cercada das ervinhas inimigas. E aquilo fazia um bem danado. Se conseguisse  tirar todas as malditas no campo do dia, ganhava leite fresquinho da esposa do patrão. E leite melhor que aquele não havia! Leite que ela ganhava com o esforço dos bracinhos descabrunhados, mas cheios de alegria.
              [...]

OBS: Outro que eu não terminei. -.-' Na moral, preciso dar um jeito nisso!
 

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