domingo, 14 de outubro de 2012

Menina de alguém.

 

Enquanto entrava sorridente na lanchonete, meus olhos refletiam a verdadeira face das suas expressões. Para os que não a conheciam tão bem, parecia ser uma dessas meninas maluquinhas, irreverentes, cheias de coragem e dispostas a tudo por uma boa risada. Era talvez agradável de se ver e a convivencia era sempre salpicada de piadas sem sentido que tornavam o nosso ar mais leve. Era uma mocinha bonita, e aquele sorriso que não lhe saia do rosto era seu melhor acessório. Mas depois de algum tempo, de muitas risadas espalhadas e muita amizade amadurecida, já tinha aprendido a contar os olhares e os disfarces. Ela sabia muito bem. Não me enganava mais.
E nem era tão difícil notar. Um pouco mais de atenção e seria fácil interpretar a forma despretenciosa como andava. Estava agitada, rindo um pouco mais que o necessário e ficando nervosa ao menor risco de ficar sozinha. Garota boba. Está com medo de pensar.
Quando me viu e sorriu de longe, pude ver todos os seus dentes e    pelos olhos    seu coração. Eu sempre a irritei dizendo que tinha olhos grandes demais, e tinha. Com ela passei a acreditar que os olhos são a janela da alma, e disso ela também sabia muito bem. Por isso o olhar nervoso, rápido, quase ríspido, que corria de qualquer correspondencia externa possível. Do jeito que estava se entregaria mais facilmente que o normal.
E de repente meu coração se afligira. O que perturbara minha menina?!
Percorri em pensamentos todos aqueles motivos que poderiam machuca-la, principalmente os improváveis. Porque além de alegre era muito teimosa. Tinha mania de se recusar a sofrer pelas causas habituais de todo ser humano. "Perda de tempo" dizia. Mas não era... Não se perde tempo com as experiencias que nos constroem e transformam. E elas eram inevitáveis. E ainda que se escondesse, elas um dia encontrariam o caminho atrapalhado do seu coração.
E ele era tão pequeno.
 
Enquanto dançava sozinha ao som da banda (ela tinha mesmo essa mania de querer ser maluca, é verdade), entendi que ainda não seria por agora. Minha menina teria que sofrer para aprender a lidar com a vida. E por mais que sorrisse, que negasse, que fingisse, que forçasse, enquanto pudesse, as lágrimas viriam (talvez incontroláveis).
 
Porque a vida se constroe em golpes, minha menina. E ser moldado dói.
Ninguém disse que seria fácil...
Mas ainda quero estar aqui. Adivinhando o que você não me conta e te prestando o socorro que você precisa, no silencio que você tanto preza.
Estou aqui.
 (cadê? =/) 

Um comentário:

Anônimo disse...

Que texto incrivelmente lindo, não sei se estava falando de você nele, mas sei que estava falando sobre mim. rss, este é o poder que as palavras possuem não é mesmo? Parabéns, Deus continue te abençoando!